Tuesday, February 24, 2009

OS MERDOSOS 4

Não, não! Não vou referir-me (mais uma vez) ao Paulo Merdoso, definitivamente integrado na vida normal de pessoa íntegra, bom chefe de família e temente a Deus. Esse passou à história ... até surgirem novos factos ou pessoas dispostas a apreciarem de outra maneira os factos velhos. Não!

Hoje volto ao tema d' Os Merdosos, figuras da nossa sociedade, sempre prontas a salientar-se em defesa das causas mais idiotas, quase sempre danosas para o bem da comunidade, mas com uma legião de seguidores, pessoas bem intencionadas e ingénuas (fica bem o naïf?) ou sofisticados merdosos disfarçados de bons samaritanos na versão moderna: amigos do ambiente, amigos dos animais, amigos do património.

No fundo, no fundo, amigos do alheio.

Vem isto a propósito dos Movimentos de Cidadãos que se formam espontâneamente sempre que um Governo ou uma Autarquia avança com uma medida "ousada", sem ouvir as forças vivas. Ou ouvindo-as, mas não acatando o seu douto diktat.

Todos vemos que o Património Construído, mesmo o que está classificado (desde interesse municipal até património mundial) beneficiando de verbas para a sua conservação, está a degradar-se a olhos vistos, simplesmente porque o País é pobre (não é? Olhem que sim, olhem que sim...) e a conservação de edifícios não utilizados pode ser sempre adiada (quase) sine die. Já a conservação de hospitais, escolas, etc, pode ser adiada mas com menos elasticidade, pelo que a sua conservação sempre se vai fazendo.

Uma solução para recuperar e manter de forma sustentada (ena!) muitos edifícios classificados é, simplesmente, atribuir-lhes usos que gerem receitas que permitam que haja sempre dinheiro para a sua conservação. Isto faz-se um pouco por todo o mundo, até em Portugal. É preciso ser rigoroso na definição do que se pode e do que se não pode fazer com o edifício e rigoroso na fiscalização do que efectivamente se faz. Isto consegue-se, normalmente, com venda a privados, com um contrato que garanta o tal programa do que se pode e não pode fazer.

Três bons exemplos:

O cinema Condes, glorioso mamarracho dos tempos dos grandes cinemas, foi salvo da ruína pela sua conversão em Hard Rock Café; manteve-se o essencial do edifício que passou de mais uma ruína na baixa de Lisboa a edifício vivo, atraindo pessoas, gerando emprego e gerando as receitas para a sua conservação.

O cinema Eden, outro glorioso mamarracho dos tempos dos grandes cinemas, obra de autor (Cassiano Branco, talvez) foi salvo da ruína pela sua conversão em Hotel, Loja do Cidadão e Megastore (este já encerrado); tal como no Condes, manteve-se o essencial do edifício que passou de mais uma ruína abandonada e deserta na baixa de Lisboa a edifício vivo, atraindo pessoas, gerando emprego e gerando as receitas para a sua conservação.

O Hotel Pestana Palace, que de palácio abandonado foi transformado em hotel de luxo, com obras em que o IPPAR (creio que já era IPPAR) esteve constantemente envolvido.

O novo edifício e a passerelle de vidro geraram controvérsia, mas o Palácio foi restaurado, por dentro e por fora, e é mantido sem qualquer dispêndio de dinheiros públicos.

Um péssimo exemplo, o palácio de Benagazil:

A CML decidiu por à venda uma série de palácios, com um programa bem definido de usos e um menu do que se pode e não pode fazer.

Claro que já há uma série de cidadãos e de associações dos ditos, a contestar o terrível crime de privatizar o património.

Esse bando de facínoras prefere ver o património arruinado em mãos públicas do que restaurado e a dar lucro (palavra terrível, para eles!!!) em mãos privadas (outra palavra terrível, para essa gente).

Vejam como estava há cinco anos a fachada do Palácio Benagazil. Não vos mostro como estava por dentro porque tive acesso ao interior num levantamento que fiz para a CML e não me parece correcto fazer uso do que fotografei nessa qualidade.

Mas quanto ao exterior, qualquer pessoa pode ver a desgraça a que aquilo chegou.

Esses bardamerdas que se agarram ao património até às últimas (nefastas) consequências têm a mesma atitude dos pais tradicionais face às filhas que namoram tipos das classes baixas, pretos ou monhés: "preferia vê-la morta, a casada com um preto!"

Outro caso, o do Tribunal da Boa Hora, para onde se perspectiva um hotel de charme, também já há o grupo de habituais merdosos que quer que o tribunal lá continue, sem condições, sem conforto, sem espaço mas... com memória!

Haja paciência!

1 comment:

EVA | evolutionary architecture said...

Penso que vai gostar de saber desta novidade.
http://www.eva-atelier.com/palacio-benagazil-sede-confagri