Monday, February 28, 2005

A caça às bruxas (pelos bruxos...)

No último Conselho Nacional do PSD terá havido um cromo que defendeu que Pacheco Pereira deveria ser expulso do PSD, pelas posições que tomou durante a recente campanha eleitoral.

Não me espanta! Mais: espanta-me que só tenha sido uma pessoa a defender tal medida.

Tenho-me apercebido nos últimos (poucos) anos, que muito boa gente no PSD considera que ser militante do Partido obriga as pessoas a deixarem de ter opinião própria e a meterem na cabeça pensamentos alheios.

Essa gente (ou deveria, talvez, dizer "essa gentalha") defende coisas do género de que por um jornal ser de uma empresa cujo maior accionista é do PSD nunca deveria trazer notícias abonatórias para a Oposição nem negativas para o PSD.

Pela mesma razão (?) um militante do Partido, na sua função de comentador político, deveria sempre "torcer" a sua opinião e debitar o que convém ao Partido (ou seja, sob a forma de slogan: Delgado, sim!!! Marcelo, não!!!).

É difícil estar num partido sem se ter a sensação nítida de que se entrou (só pode ser por engano!) para sócio de um clube de futebol, em que tudo se reduz a duas realidades irreconciliáveis: NÓS e ELES (ou OS GAJOS).

Não é muito habitual encontrar-se uma pessoa que perceba que um partido vale pela qualidade das pessoas que agrega, militantes ou não, e não pela multidão de porta vozes, cegos arautos da voz do dono.

Ou seja e concretizando, o PSD vale pelos Marcelos, Pachecos Pereiras e (ai de mim) Cavacos e Cadilhes, cuja opinião sobre a sociedade é ouvida e respeitada precisamente porque, para além das suas qualidades pessoais, observam, analisam e pensam pela sua própria cabeça.

O facto de eu detestar Cavaco Silva (daí o "ai de mim"), não apreciar a falta de disponibilidade para o quer que seja de Pacheco Pereira e me irritar com o arzinho assalazarado de Miguel Cadilhe (por exemplo) não me impede de reconhecer as qualidades que exibem (pelas privadas, não posso dizer nada) e lamentar se, porventura, passassem a andar de espinha dobrada a cantar louvores ao chefe do momento.

Por isso, e só por isso, me espanta que só um cromo tenha defendido a expulsão de Pacheco Pereira.

Cheira-me que há mais gentalha na retranca, à espera de melhor oportunidade para se manifestar...

Saturday, February 26, 2005

As receitas extraordinárias

A propósito de um comentário ao anterior post, em que o dr Mentas comparava receitas extraordinárias com "vender anéis para se ir à praia", parece-me que seria interessante discutir essa vaca sagrada/excomungada ("t'arrenego!" escrevia o dr Mentas) e , já que estamos com a mão na massa, os deficits orçamentais.

Não sendo economista (nem gestor), este post não pode ter a pretensão de se meter em análises profundas e rigorosas. Mas como cidadãos podemos e devemos todos usar o bom senso para perceber o que se passa à nossa volta, e perceber que os economistas e gestores que têm governado o País até não têm conseguido grande coisa, para além de (claro!) belas análises e belos diagnósticos de situação.

Parece-me óbvio que qualquer governo que quisesse "matar o deficit" a qualquer preço, sem olhar a consequências, não tera grande dificuldade em fazê-lo. E fá-lo-ia sem subir impostos, intervindo só pelo lado da despesa. Não é preciso ser economista (nem gestor) para perceber o impacte que um corte de despesa pública abrupta teria, em particular para quem lhe presta serviços mas para toda a sociedade, por tabela, nas mais diversas áreas. E para perceber o que lhe aconteceria nas eleições seguintes, se lá chegasse...

Faz muito mais sentido, em particular em tempos de crise quando as pessoas e as empresas andam com o cinto apertado, que o Estado "vá com calma" e corte nas despesas supérfluas, elimine desperdícios, aumente a eficiência dos serviços e procure aumentar as receitas cobrando melhor (combatendo a fuga ao fisco, a fraude, a economia paralela). O problema é que os governos têm feito muito pouco nestes campos.

Havendo déficit, há que financiá-lo: pede-se emprestado à banca, ou "vai-se buscar" directamente aos cidadãos subindo os impostsos ou colocando no mercado títulos de dívida pública, o que vai aumentar o serviço da dívida. Ou então, recorre-se a receitas extraordinárias, as mais das vezes vendendo património ou créditos sobre terceiros.

Esta medida nada tem de cosmético: as medidas para captar receitas extraordinárias são bem visíveis e discutidas na praça pública.

Em economia doméstica fazem todo o sentido: se eu me vir "à rasca" para pagar as prestações da casa do Algarve, só em circunstâncias muito especiais iria pedir mais dinheiro à banca, pois isso só me iria aumentar os encargos mensais e ficaria ainda mais "à rasca". Se tiver umas acçõezitas, um terrenozito expectante, uns dinheiritos a prazo, preferiria vender alguns desses anéis para fazer face aos tempos difíceis.

O problema das receitas extraordinárias está em que (e nisso dou toda a razão ao dr Mentas) olhando o pouco que se tem feito para aumentar a eficiência dos serviços públicos, o pouco que se tem feito para cortar despesa supérflua, o pouco que se tem feito para cobrar melhor os impostos, fica a ideia de que se está a vender anéis para encobrir a incapacidade (ou falta de vontade...) do Estado se reformar e de se tornar mais eficiente.

As recentes eleições deram uma valente sapatada no partido que governou Portugal nos últimos 3 anos e recolocou "lá" o PS, partido que governava antes. E deu-lhe maioria absoluta.

Ora o PS tem-se farto de dizer que vai acabar com a obsessão com o deficit e vai pôr o ênfase no desenvolvimento. Nobre propósito!

Mas estou para ver como o vai conseguir fazer, em particular se vai deixar o deficit subir, empenhando-nos ainda mais, deixando subir o serviço da dívida, que é muito menos visível que discutir receitas extraordinárias na praça pública.

Tuesday, February 22, 2005

Jorge Coelho - ainda na campanha Eleitoral?!

Esta manhã ia caindo da cadeira ao ver na televisão o Jorge Coelho em amena conversa com o Miguel Relvas, sob a batuta do Mário Crespo. Dizia o Jorge Coelho que o PSD escondeu dos portugueses os valores reais do déficit, camuflando-os com as receitas extraordinárias.

Isto em campanha eleitoral (onde, desgraçadamente, vale tudo) vá lá, vá lá. Mas a campanha já lá vai e o cromo parece ainda não ter percebido duas coisas:

  • primeira - que os países que subscreveram o Pacto de Estabilidade e Crescimento têm que o cumprir, ou, caso não o façam, sujeitam-se a sanções gravosas para o País (e não é só uma questão de prestígio);
  • segunda - o PS está agora no poder (enfim, está a poucas semanas disso) e compete-lhe controlar as contas em tempo real e ao tostão para que, em tempo útil, possa arranjar as receitas extraordinárias necessárias para evitar que o déficit ultrapasse os 3%.

É importante que o PS perceba isto, porque no último governo do engº Guterres não só esse controlo em tempo real e ao tostão não foi feito como não havia na manga quaisquer medidas para obter receitas extraordinárias que compensassem a derrapagem. Resultado, o déficit estava fora de controlo e, dos cerca de 2,5% previstos, acabou por ultrapassar os 4%.

Só não houve sanções porque a ministra Ferreira Leite convenceu Bruxelas de que iria cessar o descontrolo das contas públicas e arranjar as receitas extraordinárias que fossem necessárias para evitar a repetição do incumprimento, nos anos seguintes. E, tanto ela como Bagão Felix, cumpriram a meta dos 3%, tão às claras que toda a gente (a oposição incluída) acompanhou a par e passo as medidas anunciadas para captação de receitas extraordinárias e os cidadãos puderam criticá-las, assim como Bruxelas, que, em devido tempo, recusou uma dessas medidas. No problem! a dita foi imediatamente substituida por outra que estava "na manga".

Como vai o PS fazer? Vai marimbar-se para os 3% e seja o que Deus quiser?

É um bom propósito querer ficar abaixo dos 3% sem recorrer a receitas extraordinárias. A chatice é que isso implica diminuir a despesa (fazendo "arrefecer" ainda mais a economia...), aumentando as receitas ordinárias (vai subir impostos?!) ou uma mistura doseada das duas.

Será isto compatível com as promessas (perdão, objectivos) eleitorais, quase todas elas implicando precisamente o contrário - aumento de despesa e/ou diminuição de receita?

Acorda Jorge Coelho, ou as coisa há-dem correr mal.

Monday, February 21, 2005

The day after...

Bom, pior do que isto era difícil...

Como certas terapias de choque, doeu, mas acabou (esta, pelo menos).

Os eleitores, pelos motivos que os comentadores referiram e, certamente, por muitos outros que os primeiros levaram para a cabina de voto, deram ao PS a sua primeira maioria absoluta e ao PSD uma derrota contundente.

O CDS, por tabela ou não, também saíu ferido da contenda.

O BE lá subiu mais uns pontos e tem agora 8 deputados para chatear o pessoal (felizmente nem todos com o potencial chateativo do Torquemada Louçã).

A CDU, aliança do PCP consigo próprio (agora com os Verdes no lugar do falecido MDP/CDE), lá prolongou a agonia à custa da simpatia do novo líder, um antigo operário que evita chatear os eleitores com a cassete tradicional.

Resta agora ver o programa que o PS vai apresentar à AR e, antes disso, ver se nos surpreende com um governo com caras novas (e boas; para más, antes as antigas...) que permitam esperar diferenças para melhor em relação aos governos de Guterres.

Entretanto, a agitação nos boys que já era notória durante a pré campanha vai acentuar-se com a quantidade de tachos em prespectiva. Vai ser um fartote!

Quanto ao PSD, vamos ver se no lamber das feridas o pessoal compreende que o factor Santana Lopes existiu mesmo e foi, provavelmente, determinante na extensão da derrota que o partido sofreu.

E espero que perceba também que se esse factor se mantiver, as autárquicas vão pelo mesmo caminho, a começar por Lisboa, se ele "recuar" para o seu lugar de Presidente da Câmara.

Era uma peninha!

Wednesday, February 16, 2005

OS ARGUMENTOS DE SÓCRATES

O debate a 4,5 de ontem à noite foi uma porcaria, mas ao menos foi esclarecedor em umas quantas coisas em relação ao Delfim Sócrates:

argumenta muito (e revira os olhos para o tele espectador) com "por amor de Deus" intercalados com "ridículo!";

continua a não dizer (nem em conversa...) quem vai ser o quê, se formar Governo (deve ser para não se poder confirmar o que toda a gente já viu: o Governo do Engº Guterres, com pequenos retoques - a morte de Sousa Franco motivou um deles);

continua a não dizer o que vai fazer se não tiver maioria absoluta;

continua a não dizer o que vai fazer quanto ao financiamento da segurança social, nomeadamente a idade da reforma, porque vai primeiro fazer estudos (não devia ter feito já?!);

sobre os hospitais, só diz que vão ser empresas públicas, ou seja, com gestores públicos, recheados de malta "com vínculo à função pública", com a ineficiência consabida; ainda não percebeu que a ideia de contratar serviços de gestão a empresas privadas é, precisamente, tornar mais eficiente um sector onde se gasta muito com resultados sofríveis.

O Torquemada Louçã, com a maior cara de pau, diz que o aumento da despesa com as reformas (devidas à maior longevidade dos beneficiários e ao número decrescente dos contribuintes) será coberta pelos ganhos de produtividade!!! Isto "só" quer dizer que preconiza o aumento das taxas e o pateta pensa que as pessoas não vão dar por nada porque, com os ganhos de produtividade vão ganhar mais.

Como é que este pateta, com ares de grande virtude, ainda engana tanta gente?!

Sunday, February 13, 2005

O próximo referendo sobre o aborto

O novo referendo sobre o aborto, ou, usando uma expressão politicamente correcta, sobre a IGV (interrupção voluntária da gravidez), está à porta, mais ano menos ano, pelo que me parece prudente começarmos a pensar e a discutir sobre o assunto.

Acho que é uma matéria em que os partidos mais ao centro deveriam reconhecer aos seus militantes, deputados, etc, toda a liberdade de posicionamento e expressão. Aos partidos das franjas, direita e esquerda, dou de barato que assumam as habituais posições bem definidas e militantes, muitas vezes crispadas e intolerantes. (É preciso lembrar o Francisco Torquemada Louçã e o que ele pensa de quem tem e não tem direito a falar sobre a vida?...)

A minha bandeira neste particular é a do sim à despenalização. Sempre foi e não encontrei nenhum argumento suficientemente válido e de peso para deixar de o ser. O que por si só não me deixa nada confortável, nem me faz parar de pensar no assunto.

No último referendo fiz campanha, fui votar e levei pessoas a votar (dentro da cabine de voto, não sei como votaram, claro) e chateei os meus amigos de esquerda para que não dessem por adquirida a vitória do sim à despenalização.

Deram-na por adquirida, ficaram em casa - nunca houve um acto eleitoral tão pouco concorrido - e o não acabou por ganhar.

Também tentei explicar a amigos e conhecidos que não se trata de uma questão para as mulheres decidirem: para chegarmos a esse ponto é preciso que os eleitores (homens e mulheres) se pronunciem sobre a matéria e que a AR legisle nesse sentido, em conformidade com o que sair do referendo.

Até lá são todos os cidadãos eleitores, homens e mulheres, que têm o direito de votar num sentido ou noutro.

O meu problema com o aborto é que não consigo discernir (e estou farto de ler, pensar e discutir sobre o assunto) mais do que dois pontos notáveis no percurso do embrião até ao nascimento.

  • O primeiro é a nidificação (se um embrião não se "conseguir" ligar à parede do útero, não tem chances de evoluir);
  • O segundo ponto notável é o próprio nascimento (para mim é claro que matar um feto depois do nascimento - um bébé, portanto - ou no acto, é, e deve continuar a ser, um homicídio).

Portanto é pacífica para mim a destruição de embriões excedentários após os procedimentos de reprodução assistida, ou o seu encaminhamento para investigação.

Durante a gestação, podemos colocar barreiras às 12 semanas, às 24 semnas, às 16 semanas, quando o coração é audível, quando aparecem os dedos, quando se sentem os pontapés - o que se quiser. Mas são meras barreiras artificiais, que não alteram em nada de essencial a condição de "ser humano em potência" (não em acto), que o feto tem antes e após a barreira.

Neste debate que se impõe na nossa sociedade não deveria ser contornada uma questão, nem diabolizadas as pessoas que consideram fulcral: é crime matar um "ser humano em potência"?

Se a resposta fôr não, ficamos com um novo problema nas mãos: sendo um feto com, por exemplo, 8,5 meses um "ser humano em potência" será mesmo lícito abortar aos 8,5 meses?

Não me parece nada lícito, já que mais não seja porque um feto saudável com essa idade é perfeitamente viável fora do útero, na esmagadora maioria dos casos. Abortar nesse estágio da gestação equivale a fazer um parto provocado. Que fazer ao bébé-surpresa resultante? Matá-lo para consumar o que começou como um aborto? As técnicas abortivas ter-lhe-ão provocado mazelas irreversíveis? Não se responsabiliza ninguém? Quem?

Ou seja, o facto de eu ser a favor de uma lei que consigne a liberdade da mulher abortar, sem dar cavaco a ninguém, não me livra destes problemas de consciência. Estou e sempre estive muito, muito desconfortável com essa minha posição. Mas confesso que me sinto muito mais desconfortável ao imaginar-me na posição oposta.

Esse desconforto é, provavelmente, responsável pela minha falta de pachorra para com "libertário/as" que acham criminoso e medieval pôr a fasquia nas 12 semanas quando na terra dele/as também existe uma fasquia, só que um bocadinho mais acima...

Saturday, February 12, 2005

A intervenção cívica vale a pena

Com as eleições à porta, ouve-se com mais frequência a ladaínha de que "os políticos" "são todos iguais", "andam todos ao mesmo", "são uma corja", seguindo-se a conclusão habitual: "eu cá não vou votar; para quê?".

Os mais sofisticados até arranjaram um argumento novo a favor da abstenção, ao descobrirem que, por cada voto, a lei do financiamento dos partidos atribui ao partido que o recebeu 2 Euros (por dia, por mês, por ano? falta-me essa informação).

Estão a ver a ideia: quem vota está "a dar" dinheiro aos partidos. E estão também a ver a conclusão sábia: não votes, para não dares dinheiro a "essa corja".

Os mais "cultos" sacam de textos do virar do século XIX para nos mostrarem que as críticas dirigidas ao Poder de então continuam a fazer sentido hoje. Sugerem que com este sistema político o cidadão não tem hipótese de intervir, não pode fazer nada. "Eles" é que decidem tudo, no interesse "deles".

E a verdade é que muito boa gente (a maioria?) não quer fazer nada... por isso, não faz!

Quando muito, lamenta-se, junta-se aos amigos e lambem as feridas uns aos outros, numa espécie de "Os Vencidos da Vida", versão século XXI.

Contudo, é bom recordar o exemplo de Antero de Quental (autor de muitos dos textos "actuais" que referi), que nunca deixou de intervir, de integrar diversas tertúlias, grupos e grupinhos, do Grupo dos Cinco às Conferências do Convento, da Liga Patriótica do Norte a Os Vencidos da Vida.

Nunca deixou de acossar o Poder (Ávila e Bolama que o diga) e de tentar levá-lo a tomar o rumo que considerava desejável para o País. Não estaremos longe da verdade se dissermos que se suicidou, quando achou que intervinha em vão.

Assim, à guisa de conclusão, diria que intervir na vida social (no clube de rua, no bairro, na cidade, no País) pode ser frustrante, mas ajuda a "ir mudando" as coisas. De algum modo, de Antero até hoje, com avanços e recuos, com rupturas de regime, com golpes e guerras, estamos a anos luz dos problemas que o atormentavam, se não qualitativa, pelo menos, certamente, quantitativamente.

Ou seja, a intervenção cívica valeu a pena, A INTERVENÇÃO CÍVICA VALE A PENA!

Sunday, February 06, 2005

A vitimização de Sócrates compensa?

Confesso-me um admirador (moderado) de Paulo Portas, desde os tempos em que ele surgiu na nossa sociedade, ao leme do Independente, ao lado do desaparecido em combate MEC.

Nesse papel, pesem embora alguns excessos sanados em tribunal (nem todos estão sanados), mostrou bem a importância que um jornal pode ter como “sentinela” atenta ao que acontece na sociedade, denunciando, alertando, xingando e dificultando a deriva autocrática que tenta qualquer poder se não sentir sobre si o olhar atento e actuante do público. Cavaco que o diga...

Dito isto, recordo o episódio do Manifesto Anti Portas (lobby gay, etc) lançado pelo Candal, numa campanha eleitoral em Aveiro em que o outro cabeça de lista, além dos mencionados Portas e Candal, era Pacheco Pereira, pelo PSD. A esse manifesto e às insinuaçãoes quase explícitas, Portas respondeu com um simples não digo que sim, nem digo que não, ninguém tem nada que ver com o assunto, matando a questão à nascença. Nesse ano, votei CDS/PP.

E recordo o episódio para destacar a diferença abissal entre essa recusa liminar à discussão de matéria privada e o modo como o PS e Sócrates reagiram aos boatos de cariz semelhante, lançados sobre este último, nos últimos tempos.

Em vez de matar a questão à nascença, Sócrates e os dirigentes do PS desdobraram-se em declarações, artigos e entrevistas, não perdendo uma oportunidade para manter nas primeiras páginas e no prime time um problema que dava a Sócrates a oportunidade impar de se apresentar como vítima inocente do lobo mau.

Esperando vir a facturar nas urnas, se a questão aguentasse mais umas semanitas na ordem do dia.

Isto é, onde um recusou discutir questões de foro íntimo, o outro, amplificado pela equipa, declarou freneticamente que era mentira, que estava a ser caluniado, que o boato fora lançado por gente do PSD, que não era desses, numa verdadeira campanha de vitimização, não tendo escrúpulos em agitar aos sete ventos e em proveito próprio, uma matéria que afirma ser do foro privado.

Estes dois episódios sugerem bem que, para além das meras diferenças ideológicas e questiúnculas políticas, há um abismo entre a estatura moral de Portas e a de Sócrates.

E, como muito bem notou o inefável Vasco Pulido Valente, a verdade é que Sócrates continua a ser levado ao colo durante esta campanha: pelos jornalistas, pelos seus colegas de partido, pelo moralista Pacheco Pereira, pelo Senador Freitas do Amaral.

Vamos ver se compensa.

Saturday, February 05, 2005

CADÊ O "CHOQUE ENERGÉTICO"?

Com a pré campanha a chegar ao fim, já todos os partidos apresentaram os seus programas, lançaram os seus manifestos de campanha, apresentaram as medidas prioritárias para o próximo Governo tomar.

Sobre a questão da energia pouco ou nada se tem falado.

Dou de barato que ela estará tratada com detalhe, enterrada no meio das centenas de páginas dos programas dos partidos. Mas constato que não tem sido tratada como coisa que valha a pena trazer à televisão, à rádio ou aos jornais, ou seja, a entrar na lista das coisas prioritárias.

E a questão é das mais importantes: a nossa principal importação é energia. Não tanto em electricidade, mas principalmente em petróleo e gás natural, uma boa parte dos quais se destina à produção de energia eléctrica e a aquecimento.

A fatia destinada a energia eléctrica poderá ser reduzida substancialmente se completarmos (as is ou com alterações) o plano de construção de barragens. Só que, para isso, teríamos que relativizar muito dogma, teríamos que deixar de encarar os gurus da ecologia como detentores de toda a verdade. Teríamos que responder a questões incómodas como "será que manter o Sabor em estado selvagem vale os milhões de contos que a construção da barragem permitiria poupar?".

Os gastos com energia poderiam também ser reduzidos se se apostasse a sério na energia eólica. Também nesse campo teríamos que comparar o valor da beleza da natureza selvagem com o benefício da produção de energia, desfeiando a paisagem com torres e mais torres de aerogeradores.

Quanto à energia para aquecimento, continuamos a não aproveitar sequer o sol para aquecer água! A colocação de painéis solares, dos mais simples, só para tomar banho e lavar loiça, é barata e permitiria poupar milhões de euros em importação de gás.

Por outro lado, a construção de barragens e de parques eólicos proporcionaria largos milhares de empregos, directos e indirectos. Estes últimos poderiam ser maximizados caso fossem dadas facilidades ao estabelecimento no país de empresas que construíssem os aerogeradores e, já agora, os painéis solares. Não falo de facilidades fiscais: apenas facilidades burocráticas.

Já houve casos de empresas que se propunham construir aerogeradores em Portugal e que acabaram por ir para Espanha porque os "processos de licenciamento" (o que quer que isso seja...) se arrastaram por anos e anos, com várias agências e ministérios a terem que dar o sim, todos eles com prazos de meses para emitirem o seu competente (?) parecer.

Desgraçadamente para este nosso país, a única barragem que tem sido falada na pré campanha é a de Odelouca, por causa da seca que ameaça o fornecimento de água às cidades algarvias.

Ou seja, por puro oportunismo político.

É preciso lembrar que assim não vamos lá?

Friday, February 04, 2005

O DEBATE DOS CHEFES

Os chefes dos índios juntaram-se ontem, muito aprumadinhos, perante um juri de senhores doutores jornalistas (respeitinho, que eles é que mandam no circo), que os examinaram sem lhes deixarem margem para se insultarem (perdão, para se interromperem) nem os deixando ultrapassar o tempo contado para botarem faladura.

Tudo muito limpinho, muito à amaricana.

No fim, à despedida, o Sócrates deixou o Santana de mão estendida enquanto, com toda a calma, tirava o zingarelho do microfone sem fio; depois, lá se dignou a estender-lhe a mão.

Isto ia bem era como o Markl sugeriu hoje, no Inimigo Público: combinavam uma hora (de preferência depois das aulas), um sítio recatado e andavam à porrada. Sem mariquices, sem acusaçõezinhas, sem armarem em vítima: à porrada e pronto!

Até tinha piada...

FORUM CIDADANIA LISBOA

No passado sábado, um grupo de lisboetas reuniu-se na livraria do Bairro Alto Ler Devagar e arrancou com um novo movimento cívico que "pretende reunir e sistematizar as queixas e sugestões dos moradores da capital para que estas sejam entregues às autoridades municipais e os assuntos resolvidos", segundo noticiava o Público de domingo (30 Jan 05).

Trata-se do FORUM CIDADANIA LISBOA.

A ideia parece-me muito boa, pois o exercício da cidadania é coisa de que se sente (eu sinto) um acentuado déficit, com muito boa gente a achar que "eles é que têm que resolver", que para isso é que "a gente lhes paga".

Esta primeira reunião pública teve, segundo o Público, poucas pessoas presentes. Estava em cima da mesa o modelo de desenvolvimento que os lisboetas querem para a cidade.

Da reunião, não obstante ser a primeira e ter tido poucas pessoas presentes, sairam já propostas e reivindicações dirigidas ao município:

- que o túnel do Marquês não passe para lá do Marquês, ficando-se pelo desnivelamento da av Castilho com a Joaquim Antº de Aguiar;

- que os terrenos desocupados pela Feira Popular sejam transformados num prolongamento do jardim do Campo Grande;

- que o Convento dos Inglesinhos seja transformado num equipamento cultural;

- alterações nas áreas de trânsito no centro da baixa;

- alterações no sistema de transportes de Lisboa;

Hoje, menos de uma semana depois, o Público noticia mais uma proposta do Forum, suportada por um abaixo assinado: que o edifício em Campo de Ourique onde Almeida Garrett viveu os últimos 2 ou 3 meses de vida seja transformado num equipamento cultural.

Bom, para uma colectividade que se intitula Forum, que fez só uma discussão pública (com poucas pessoas), seria desejável que, antes de avançar com propostas e reivindicações, houvesse debates com os cidadãos em nome de quem (ou, pelos menos, para o bem de quem), ao que parece, o Forum pretende intervir.

Ainda por cima, uma boa parte das propostas ora avançadas (Inglesinhos, Feira Popular e putativa Casa Almeida Garrett), são claramente dirigidas no sentido de aumentar a despesa pública em equipamentos sociais e culturais, quando o peso dos existentes constitui um verdadeiro fardo para a autarquia lisboeta, que não tem verbas para os manter a todos a funcionar decentemente.

E para ajudar a caracterizar os promotores deste Forum, que delibera sem debater com os cidadãos, não podia faltar a oposição ao túnel do Marquês, pretendendo que seja reduzido à sua condição de quase inutilidade: túnel das Amoreiras.

Assim sendo, este suposto Forum, que não debate com os lisboetas, parece ser mais um nome para alinhar ao lado da Animal (?!) na plataforma Cidadãos contra o Túnel do Marquês.

Raio de gente...

Wednesday, February 02, 2005

A que colo te encostas tu, Delfim?

Anda agora tudo em polvorosa porque o Santana Lopes se referiu ao seu adversário directo, entusiasmado pelo apoio que o femeaço presente lhe prometia, insinuando que o dito preferiria outros colos para encostar a cabeça.

Caíu o Carmo e a Trindade:

- sobre o cartaz do Santana, com os dizeres (mais coisa, menos coisa) "este sim, sabemos quem é", Sócrates tinha dito que, sim senhor, tem toda a razão, o povo sabe muito bem quem ele é. Agora, depois da conversa do colinho bom, esses dizeres ganharam novo sentido pelo que neles estaria subjacente: sabemos quem é o Santana, mas não sabemos quem é (o que é...) o Sócrates (insinuação torpe, segundo o speaker do PS).

- fala-se em terrível boato, mas ninguém, a começar pelo "moralista" Pacheco Pereira, diz que raio de boato é. Tenho-me farto com receber coisas pela net a falar de que vamos ter um roto, de cartazes que associam o Delfim de Guterres a um artista da nossa praça (sempre o mesmo, por sinal). Isto há semanas, muito antes da conversa do colinho bom. Será esse o boato? Quem se chega à frente a dizer qual é o boato?

E, já agora, será mesmo boato? É que uma coisa é metermo-nos em coisas privadas (entenda-se, coisas com gajos, são privadas; com gajas, são tudo menos privadas, toda a gente se sente no direito de comentar), outra muito diferente é dizerem-se mentiras sobre coisas (privadas ou não).

Voltando ainda ao suposto boato, diz agora o speaker do Delfim que ele, boato, foi lançado pelo PSD. Ridículo!! O suposto boato circula na net há semanas, começando talvez pelo excerto de um jornal (forjado?) brasileiro que falava do Santana e do Sócrates (mais o tal artista, sempre o mesmo, com nome escarrapachado). Claro que ao PS faz jeito dizer que o PSD é que bolou a coisa desde o início, pelo que aproveita a deixa...

Ora bem: se um tipo gosta de gajos, por que raio há de dizer que, coiso e tal, e mais não sei quê, e porque toma e porque deixa? Gosta, diz que gosta, carago. Qual é o problema?

Portanto, deixemo-nos de merdas, ninguém tem nada que o Sócrates ou o Santana gostem do que gostam, ou que mudem de gosto.

O que deveria interessar agora aos eleitores era que os candidatos explicassem ao que vêm, o que pretendem fazer se forem eleitos, como, com que meios e com que prazos.

Acontece, que eleitores e candidatos procedem como se se estivessem borrifando para isso e só dão faísca quando se fala de negócios de saias (ou de calças, não é?!) ou de roubalheiras...

E depois fazem de vítima (há pouco tempo era o Sócrates que acusava o Santana de vitimização, lembram-se?), com toda a gente a vir em defesa do coitadinho, (ai o que lhe chamaram!) que é o que está a dar.

Estou farto desta merda!!!! Bichonas, suas bichas, dizia o inefável (mas certeiro) Zé Chateau Blanc.

Ao menos o Portas, quando daquele manifesto do Porcocandal, do lobby gay e coisas no género, respondeu com toda a elegância: não digo que sim, nem que não, ninguém tem nada que ver com o assunto.

Pelos vistos, não serviu de exemplo.