Sunday, May 27, 2012

O "meu" 27 de Maio foi há 35 anos

Na manhã de 27 de Maio de 1977 saí de casa, como sempre, para ir trabalhar para o aeroporto, para a TAAG, onde trabalhava havia pouco menos de um ano.

Vivia sozinho na casa que eu estava a preparar para receber a minha mais que tudo, com quem iria casar dentro de poucos meses. A casa era alí para os lados dos Coqueiros, e fora-me passada (sem quaisquer encargos) por um colega e amigo meu, uma vez que ficara vaga com a mudança dos pais para outra casa.

Pelo caminho não notei nada de especial (de noite também nada perturbara o meu sono), só quando cheguei à TAAG é que se tornou óbvio que alguma coisa se estava a passar. Algumas das oficinas estavam fechadas e já havia notícias de que estava em marcha um golpe de estado e que "o povo tinha que dizer que as coisas não estavam bem", etc, etc.

Por volta do meio dia tornou-se óbvio que não estávamos ali a fazer nada e houve ordem para voltarmos para casa. Meti-me no BM da empresa, com os colegas a quem habitualmente dava boleia, e zarpámos para casa. Nesse tempo a empresa tinha muitos "turismos" que tinham ficado dos pulas que tinham bazado para a Tuga e que eram distribuídos aos "responsáveis" - eu abichara o BMW 2002 por ser um pula que fizera o percurso contrário aos retornas e não tinha "transporte".

Pelo caminho, do aeroporto para a av dos Combatentes (ainda não era Cte Valódia...), passámos entre o antigo RI 20 e o edifício do SPM, tendo à esquerda os edifícios do Rádio Clube. Essa estação de rádio tinha sido tomada pelos Nitistas logo no início do golpe e estava agora a ser atacada pelas tropas leais ao governo, numa coluna de autometralhadoras comandada pelo Onambua.

Quando eu passei a rotunda do RI 20 dei de caras (é o termo) com a tal coluna que vinha pela faixa contrária, mesmo mesmo ao encontro do BM, num cagaçal enorme de motores e disparos, ao que parece, para o ar - se me quisessem atingir, àquela distância era impossível falhar.

Parei de estaca e enterrei-me pelo espaço entre o volante e a parte de frente do banco ... até que o meu compadre (futuro compadre, padrinho do meu filho), o Livramento, que ia no banco ao lado, me puxou e me berrou aos ouvidos para arrancar com a merda do carro e pirarmo-nos dali (as autometralhadoras tinham cruzado o separador central, mesmo à nossa frente, e dirigiam-se para os terrenos do Rádio Clube) .
E assim foi, pisgámo-nos em grande velocidade, sem encontrar barreiras nem checkpoints.
Fomos para casa de um amigo e conterrâneo do Livramento, o Cecílio, que eu não conhecia ainda não conhecia, e aí ficámos um dia ou dois (não me lembro bem) até as coisas voltarem ao normal. Por sinal, o Cecílio arranjou-me um apartamento no mesmo prédio onde morava (nos Combatentes, depois Cte Valódia) e foi aí que passei a residir com a minha mais que tudo até regressar a Portugal, em 1988.

O golpe do Nito Alves deixou-me cheio de sobressaltos e (maus) pressentimentos: é que conhecia pessoalmente o Nito, dos tempos em que estive em Quibaxe (na tropa, depois do 25 de Abril) e ele no Gulumane, não muito longe (veja mais aqui ). Além disso, ele foi um dois ministros que abonaram a minha entrada em Angola (o outro foi o engº Manuel Resende) e eu pedi-lhe uma audiência, para lhe agradecer e retomar contacto, assim que cheguei a Luanda. Mas ele não me recebeu o que, depois do 27 de Maio, achei que foi uma sorte.

Nunca me chatearam o que me deixou muito aliviado: no rescaldo do golpe sangrento do Nito Alves, a repressão foi muito, muito sangrenta. Tipicamente, os portugueses envolvidos foram expulsos e os angolanos executados. Mas também as minhas atividades políticas eram zero e o meu concunhado Zé Vale, da Disa, (esse mesmo, o "terceiro homem"...) sabia bem que as minhas atividades, para além do trabalho, se resumiam às farras e à pesca.

Mas que andei com eles apertados, lá isso andei...

Saturday, May 26, 2012

A consciência social certificada - Comendador Marques de Correia

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Há dias repesquei uma carta do Comendador Marques de Correia, um primo afastado dos Marques Correia, alter ego do "nosso" Henrique Monteiro, sobre o "Manual da Perfeita Consciência Social e da Arte da Lamúria".  Leiam que vale a pena.

Como sempre, o Comendador trata assuntos sérios com graça e fine sense of humor e, en passand, deixa-nos a matutar.

No caso vertente, para além do gozo sobre a atitude de muito boa gente (a gente de esquerda é, por definição, boa gente - digo eu, não o meu primo...) perante a oportunidade ou não que é ficar sem emprego, introduz, a dado ponto, o conceito de conciência social certificada.

Este apetrecho, cahamemos-lhe assim, é o que permite ao Bernardino Soares, ao padreca do Louça, ao José (in)Seguro, ao D. Arménio Carlos e, no geral, aos figurões do centro-esquerda à extrema esquerda, passando pela esquerda-esquerda e pelo bloco de (extrema) esquerda, que lhes permite, dizia eu, arvorar-se em únicos seres que se interessam pelos pobres e desempregados em contraposição com os cidadãos "de direita" (incluindo os malandos dos liberais e ultraliberais) que se estão cagando para os pobres e desempregados, de alto e de repuxo.

Até há quem atire com a teoria (veja-se o que prega D. Arménio) que o intuito, a missão dos ultra-liberais é tirar o pouco que os (ainda) empregados ganham para dar aos ricos e aos banqueiros...

Quem tem uma conciência social certificada pode dar esmola a um pobre e dizer que defende uma agenda para o emprego (?!...) seguro de que é olhado pelo "povo" com admiração e que o seu ato é tido por solidariedade social, enquanto que a mesmíssima esmola dada por uma dondoca de Cascais ou por um liberal (ultra ou não) é... caridadezinha!

Assim vai o nosso belo Portugal...

Saturday, May 05, 2012

AINDA O SUPER 1º DE MAIO DO PINGO DOCE

Henrique Monteiro, no Expresso de hoje tece algumas considerações sobre o que foi a supoerpromoção do Pingo Doce no 1º de Maio, algumas das quais já as tinha exposto no FB. No geral, revejo-me estes comentários, se bem que me pareça que o impacte da promoção sobre as manifs do 1º de Maio devem ter sido zero: os tipos das bandeirinhas vermelhas que frequentam as tais manif's não faltam nem que chovam canivetes.
O pessoal que acorreu aos super saldos é (digo eu...) malta mais terra a terra, mais interessada em fazer pela vida no dia a dia do que em correr a foguetório.

Por outro lado, é público e notório que o 1º de Maio tem cada vez menos que ver com "os trabalhadores" e mais com clientelas de esquerda interessadas em aproveitar o feriado para bater no Governo - em qualquer Governo, já que "eles" só por milagre (ou catástrofe...) podem de forma realista aspirar a sê-lo.

Destaco o último parágrafo:

"A esquerda odiou a afronta. Mas o espírito do 1º de Maio já estava a ficar moribundo."