Hoje é o Dia Internacional da Mulher, na liturgia dos tempos modernos.
Este é um tema recorrente neste blog, onde a situação da mulher no mundo (em Portugal, nos países islâmicos, no "seio do lar cristão", etc) tem tido o devido destaque e tem sido objecto de vários posts.
Não é que eu seja particularmente preocupado com questões de direitos humanos, actualmente um tema muito ligado ao politicamente correcto e aos profissionais da ajuda internacional - irritam-me particularmente o médico do BE da AMI e o totó do ex-cantor Geldof. Portanto, quero é distância!
A questão da mulher motiva-me do mesmo modo que me motivam a dos povos colonizados e dos escravos: são (ou eram) pessoas perfeitamente à mercê "do outro", sem nenhuma protecção efectiva e com toda a sociedade a olhar para o lado e a assobiar.
Há poucos meses, num programa de rádio (salvo erro o Contraditório, da Antena 1) quando um jornalista referiu que há uns anos a mulher casada precisava da autorização formal do marido para viajar para o estrangeiro, a colega jornalista (Inês Pedrosa?) soltou um espontâneo "a sério?! Isso era mesmo assim?!". Tadinha, tão burrinha...
É impressionante que mulheres adultas, normais e cultas (ainda por cima jornalistas) estejam completamente a leste do que se passava há menos de 30 anos com questões relevantes de género. Provavelmente estão a leste do que se passa agora...
Aqui vos deixo exemplos de posts neste blog sobre direitos das mulheres.
Clique aqui, mais aqui , ali , acoli, acolá, mais ali , mais lá (recomendo vivamente esta), ainda esta , aqueloutra e, finalmente, est'outra.
No programa O Amor É, do sexólogo Júlio Machado Vaz, falava-se hoje destas questões, a propósito do Dia Internacional da Mulher. Desgraçadamente, só ouvi os últimos 20 minutos, se tanto, mas deixo-vos aqui, com a devida vénia, alguns excertos que apanhei:
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Amarra-se a mulher à casa e depois acusamo-la de não nos acompanhar...
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As mulheres são os escravos dos escravos.
- A História é a história da sucessiva usurpação do homem sobre a mulher tendo como objectivo subjugá-la e mantê-la subjugada.
- Em meados do século XIX, numa conveção mundial contra a escravatura, todas as mulheres delegadas à convenção foram impedidas de entrar e tomar parte na dita.
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O casamento foi, até hoje, se excluirmos a prática da escravatura, a forma mais perfeita de domesticação e subordinação das mulheres.
1910 Cessa o dever de obediência ao marido;
1911 O direito de voto é confirmado só para homens ;
1913 Idem, mas têm que saber ler e escrever;
1931 Finalmente as mulheres podem votar ... desde que tenham pelo menos estudos secundários completos (para os homens continua a bastar saber ler e escrever);
1933 A Constituição consagra a igualdade de direitos entre homens e mulheres "salvas, quanto à mulher, as diferenças resultantes da sua natureza e do bem da família"; esta restrição, tão vaga, dava para tudo...
1959 A mulher portuguesa que casa com um estrangeiro pode (finalmente!) conservar a nacionalidade portuguesa (até aí, perdia-a automaticamente ao desposar um estrangeiro);
1967 Novo Código Civil: a família é chefiada pelo marido a quem compete decidir em relação à vida conjugal comum e aos filhos;
1969 Igualdade entre homens e mulheres, qualquer que seja o estado civil; nas autarquias, contudo, só os "chefes de família" podem ser eleitores (a mulher aí não tem direito de voto);
1969 A mulher casada é (finalmente!) autorizada a atravessar a fronteira sem autorização do marido; precisa de autorização do chefe de família, o marido, para levar os filhos;
1971 As mulheres estão proibidas de trabalho noturno;
1976 (2 anos depois do 25 de Abril) Abolido o direito de o marido abrir a correspondência da mulher;
1976 Fim da pena de morte para traição em caso de guerra com país estrangeiro - esta foi a verdadeira data do fim da pena de morte, e não 1848...
1978 (4 anos depois do 25 de Abril) Desaparece a figura do "chefe de família";
1987 Obrigatoriedade de prestação do serviço militar a todos os cidadãos; contudo, os do sexo feminino são dispensados daquela obrigação, podendo vir a prestá-lo a título voluntário, em moldes a definir;
1991 Passa a ser permitido às mulheres o serviço na Força Aérea em condições de igualdade com os homens "em determinadas categorias e especialidades";
1991 É permitido às mulheres candidatarem-se ao Exército em condições de igualdade com os homens;
A fonte é o livro que a figura mostra, de 1995. 13 anos depois, não existe nenhuma mulher general nem almirante...
Veja (oiça) Saíu para a rua , poema de Carlos Tê, por Rui Veloso.
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