Saturday, May 28, 2011

SAUDADES DO RITZ CLUB - A CATEDRAL!!!

Há dias passei à rua da Glória, de propósito, para ver como estava o velho Ritz Club, a verdadeira catedral da noite lisboeta, nos anos 60 e até ao 25 de Abril.

O edifício lá está, com aspecto cuidado, mas desaproveitado.

Fotos ao lado (a primeira) e de cima.

Aquilo foi um cabaret "à moda antiga", com uma sala de espetáculos como deve ser, a plateia com mesas e pista de dança.

Tinha um bom palco para os espetáculos de animação e um balcão em ferradura, com mesas para clientes que não conseguiam mesa na plateia (foto ao lado, da época).

O ambiente era apimentado por meninas em abundância (e pelas suas tias, presume-se, pela idade de muitas delas) que "ajudavam" os clientes a beber ("alternavam"...) e os levavam a actividades mais interessantes e lucrativas, fora do Ritz Club (que ali não se faziam poucas vergonhas!), esfolando metodicamente os "cabritos" que tinham alguma coisa para esfolar.

Vejam mais sobre o ritz Club clicando no link.

Os espetáculos eram um espetáculo! perdoem o pleonasmo - e o exagero...

Desde o ballet Erasto, com bailarinas gordas (ou gordíssimas), todas bem acima dos 40 anos, até ao ilusionista galego que atirava pratos (tipo frizbee) para a plateia, proclamando "y logo, logo, ellos virón ótra véz para mi mánu, verdad?..." - escusado será dizer-se que os pratos caíam quase sempre na plateia, para gáudio da malta.

Como nesses tempos o dinheiro era pouco (ainda não acumulava o pré de cadete da Academia Militar com o vencimento de "monitor extraordinário além do quadro" do Técnico) e não gostava de cerveja, batia-me a noite inteira com uma cerveja grande, daqueles tempos (660 cm3, se não me falha a memória) que ia chupando aos poucos para fazer durar a noite toda...

O Ritz tinha um restaurante no 1º andar, salvo erro, onde se podia ir retemperar as energias, e um salão de barbeiro, onde se podia ir retocar o penteado, caso de quem quisesse atacar peixe mais exigente. Tinha tudo, só faltava uma capela para as meninas aliviarem as conciências, o que as trazia muito preocupadas com a salvação das suas alminhas...

Próximo do Ritz Club ficava o Fontória (parece-me que ainda está a funcionar), na Praça da Alegria, onde às vezes íamos (eu e o meu amigo Carlos A, colega de estudos e de copos, e um amigo para toda a vida) porque também era relativamente acessível.

No Maxime, também na Praça da Alegria e que fechou há poucas semanas, é que nunca pus o pé porque o consumo mínimo era muito alto. É a este cabaret que o Vilhena se refere no seu Manual de Etiqueta quando, no capítulo sobre as boas maneiras à mesa, escreve que "não se come uma feijoada à transmontana como (se come) uma espanhola do Maxime".

Um pouco mais abaixo, à entrada para o parque Mayer, ficava o Cantinho dos Artistas que fechava ao início da manhã, onde íamos acabar a noite a comer qualquer coisa (serviam pratos "de restaurante", snacks, etc) e a meter conversa com as meninas que ainda não tinham levantado ferro com clientes.

O Mário M conheceu aí uma pega, a Marta A, desbocada, oxigenada e meio marreca, que passou a levar com ele ao cinema, onde ela não se coibia de angariar clientes - era um espetáculo! - trocando números de telefone com tipos do outro lado da sala, se a coisa se proporcionasse.

E proporcionou-se mesmo: uma vez que eu e o Mário fomos ao cinema (ao Olímpia, creio) e ficámos no balcão, na lateral, com ela no meio, elegantíssima (putíssima?) de super mini saia, sapatos de saltos altíssimos, com um casaco de peles branco a disfarçar a marreca; a alturas tantas já ela estava à conversa com um mânfio do outro lado do balcão (os tais em U ou ferradura) a dar o nº telefone, a marcar encontro, etc.

E nós a fazermos que não era nada connosco, que nem a conhecíamos...

A seguir ao 25 de Abril, a moral revolucionária (e o afugentamento de latifundiários, empresários, generais, pides, patrões, banqueiros, merceeiros, bispos e padres) fez decair o negócio.

O Ritz deu em casa de folclore ou outra parvoíce do género que vivia de subsídios da Kultura, que é como quem diz, do Zé Pagante, que é quem acaba por pagar estas merdas que ninguém paga para ver...

Até que fechou de vez.

Sic transit gloria mundi.

Oculto os apelidos dos meus amigos, excepto do Zé Pagante, porque não sei até que ponto esta exposição mediática lhes agradaria.

1 comment:

Fátima Santos said...

aqui dava jeito o GOSTO do face...