Thursday, May 06, 2010

TRIBUTO AO QUE SE TEM, OU O DISCURSO DO CONTENTINHO

Acontece-me algumas vezes olhar para o que não tenho e sentir que fiquei muito aquem do que aspirava em rapaz.

Olho muitas vezes para moradias nos suplementos do Imobiliário do Público e do Expresso e fico a magicar no bom que seria ter uma casa como aquela (enfim, seria sempre diferente, em todas elas encontro alterações e melhorias a introduzir "se fosse minha").

O estado de infelicidade que essas elucubrações acarretam é, felizmente, de curta duração.

Não tenho dúvidas de que, se estivesse instalado na tal moradia, com uma situação económica compatível que a suportasse, olharia com alguma mágoa e frustração para a mansão que fulano de tal (o Patiño, por exemplo...) construíu e, se a tivesse, seguramente olharia para as mansões de Hollywood, das ilhas dos parlapatões gregos ou do patrão da Microsoft com igual angústia e apetite...

See what I mean?

A foto acima não faz justiça à mais recente mansão do Bill Gates...

É muito mais reconfortante (pelo menos quando já se passou há jmuito dos 30's) perceber que such is life e que, se nos ficámos num determinado estágio de conforto acima do qual será pouco provável que ascendamos, estamos bastante melhor do que se tivessemos dívidas a honrar, se tivessemos que contar os tostões para comprar um plasma (ou esperar pelo fim do mês, ou pelo 13º mês, ou ter que comprá-lo a prestações), se precisássemos de imaginar como arranjar uma casa mais em conta, com a família a crescer.

Estaríamos muito pior se tivessemos que fazer ginástica mensal para manter os filhos na Universidade, se tivéssemos que viver nos subúrbios e perder hooooooras todos os dias para ir e vir para o trabalho que, por sua vez, já é uma felicidade ter.

E fico-me por aqui.

Nem vale a pena levar a comparação até África ou América Central e do Sul onde milhões de famílias se sentem confortáveis e venturosas por terem um tecto sobre a cabeça, a barriga consolada, os filhos na escola e trabalho enquanto a idade e a doença não os "apanhar"...

É bom aspirar sempre a mais e melhor, esse é, afinal, o motor da evolução do Homem.

Não vejo mesmo grande problema em colocar-se a fasquia um bocado alta pelo menos no início da "corrida". Mas é essencial perceber que, pelas mais diversas razões, incluindo erros nossos na gestão da nossa "corrida", incluindo a curteza da duração da mesma, a nossa "riqueza" vai necessariamente estagnar num ponto acima do qual ainda haveria muito a aspirar.

Até para o Dias Loureiro ("Pai, estou Ministro, iuipiiiiiii!!!!") o Céu está muito, muito acima da sua cabeça.

É uma situação de potencial frustração e depressão que é preciso gerir, com os pés bem assentes na terra.

Se possível, nossa...

4 comments:

Fátima Santos said...

subscrevo e assino em baixo
e no entanto, como eu gostava tanto, nem que fosse um têzero à beira dum riacho, do mar, da praia...não precisar de carro par me afogar logo de mnhã cedo... :)

Fátima Santos said...

estava de repente na cozinha (normalmente é no WC...) e percebi: era o vizinho de cima da tua mulher (!!) a dizer-me: plasma, não é sangue, não, Maria de Fátima, e nem é de compar a pronto tudo ionizado, que o teu irmão clama: é ecrã de televisão mesmo! que porra essa tua desavença com as palavras novas!!

mac said...

Maria de Fátima, francamente, que raio de plasma querias tu que fosse, a comprar com o 13º mês??

Marques Correia, aplaudo de pé.
Mas e se não for "riqueza" física aquilo a que aspiramos?
Se for, por exemplo, fazer algo que valha a pena da nossa passagem por cá? Aí estamos sempre no início da corrida, não há limite etário nem de esperança de vida.
Pode ser um acto só. Pode ser o mesmo acto, sempre, persistentemente, nos anos que temos de vida. Pode ser qualquer coisa, em qualquer lugar e com quailquer idade. Onde devemos por a fasquia?

Marques Correia said...

...por isso é que eu falo em felicidade como um conceito relativo. Conseguisses tu o tal objectivo "espiritual", GREAT!
Se, não o conseguindo, praticares acções "laterais" a esse objectivo, potenciadas pelo cacau, o teu estado de felicidade não será GREAT! mas poderá ser bonzinho.
Por exemplo, podes não ter estaleca para te abalançares a partir a cara a um grancdecíssimo malandro que fez e aconteceu; mas se lhe mijares no sapato, sem ele ver, terás tido alguma satisfação sobre ele...
Não estarás FELIZ, mas poderás estar contentinha.
. . . . . .
Modéstia à parte, sou um mestre nessa arte...
(de relativizar, não na de mijar no sapato alheio)