É a praxe em que se apoiam as comunidades estudantis das várias Universidades para se afirmarem aos olhos do público, com as suas vestes esquisitas, fora de moda, algumas com chapéus ridículos e estranhos.
Confesso que a praxe (ou as praxes) sempre foi coisa que me fez nervoso miudinho.
Desde o liceu de Sá da Bandalheira, único Liceu de Angola que levava a praxe "a sério", copiada do modelo Coimbrão, que a praxe me parece uma coisa estranha, idiota, desnecessária com a única utilidade de permitir que os maus alunos tenham uma área em que possam impor-se e brilhar.
Os desfiles de caloiros com trajes esquisitos, rebocados por carroças de bois sobre os quais se faziam transportar os senhores veteranos, parecia-me um carnaval deslocado e pateta, com a agravante de os caloiros não terem hipóteses de se baldar a tão estranhos rituais. Uma merda!
O meu desagrado agravou-se quando entrou para o Liceu um tipo vindo de fora e, não obstante entrar para o 6º ou 7º ano (o Liceu tinha só sete anos, portanto o sujeito era finalista ou semi finalista), não obstante isso, os figurões da praxe decidiram que ele tinha que ser praxado.
Ora o dito cujo achava que não e, como era bem abonado de carnes, "Touro" era a sua alcunha, durante umas semanas havia porrada quase todos os dias e os caloiros (nós) deliciavam-se porque os veteranos levavam quase sempre no trombilo.
As estórias que um vizinho meu me contava, já em Nova Lisboa, sobre as praxes vigentes no Tchivinguiro, mítica Escola de Regentes Agrícolas, de que se destacavam aspersões com água vacum (mijo de vaca, what else?!), ajuda ao rei velhinho a montar a cavalo, em que o caloiro fazia cadeirinha com as mãos para o rei velhinho apoiar o pé (com uma bota abundantemente embolada em bosta de vaca...), tudo isso não me fez passar a apreciar a praxe, antes pelo...
Na Academia Militar nem é bom falar: fui um dos dois infras (nome dado aos caloiros naquela veneranda instituição) mais praxados do meu ano, mas não me dispensava de responder torto sempre que me começava a chatear o que me valia grandes praxadelas de cambalhotas na parada, mergulhos na vala, corridas intermináveis à volta da parada, coisas que me incomodavam infinitamente menos do que estar a aturar "praxe psicológica" por um mentecapto a discorrer sobre filosofia ou a querer ouvir repetidas vezes a estória do baguinho de milho...
No fim do 2º ano fui a julgamento de praxe e fui condenado a não praxar durante os três primeiros meses do 3º ano, por suspeita de me ter vingado de um antigo praxador (no 2º ano eu era chefinho e ele faltava sem dar cavaco: acabou expulso). A acusação não conseguiu provar as minhas más intenções mas, pelo sim, pelo não, lá fui condenado a uma pena menor (para mim foi nula porque eu não praxava, ou quase).
Ao lado uma foto em que os infras do meu compartimento (espécie de quarto delimitado na camarata) estão caracterizados a preceito para o Natal de 1967. Eu estou mesmo a meio, de barba e bigodes, como S. José.
O menino Jesus está à esquerda, de tronco nu. O Gilinho morreu, anos depois, num acidente aéreo, como piloto da FAP.
De pé, o 2º a contar da nossa direita, a espreitar entre dois reis magos (o Sérgio Correia, tisnado de rei preto, e o Pinto Eliseu), está o Alfredo Correia Assunção que como adjunto do Salgueiro Maia levaria uma chapada do Brigadeiro Junqueira dos Reis, junto ao Terreiro do Paço, na madrugada de 25 de Abril de 74.
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