Com a visita a Portugal do Presidente Angolano, 'tava-se mesmo à espera que os dois cavaleiros andantes do Savimbismo, João e Maria Antónia, viessem a público, no Público, lembrar-nos as suas verdades. E quais são elas?
- Que José Eduardo dos Santos não é Presidente eleito de Angola;
- Que o Dr Jonas Malheiro Savimbi, contra o que dizem os mal informados e os mal intencionados (?) aceitou o resultadio das eleições de 1992 e estava disposto a ir à 2ª volta das ditas;
- Que o MPLA deu um golpe em que massacrou milhares de apoiantes da Unita e regressou-se à guerra civil;
- Pelo caminho de uma eleição presidencial fixcou o cadáver do opositor de José Eduardo, o Dr Savimbi...
Aparentemente, tudo verdade. Enfim, quase tudo: Savimbi baldou-se mesmo à segunda volta e só não o terá feito de imediato para continuar a facturar o que foi a sua mais valia das eleições, a ocupação militar, paulatina, de território.
De facto, desde que a trégua começou, durante a campanha eleitoral e no período de impasse a seguir às eleições, a Unita ocupou cidades, vilas e aldeias, do seu território histórico, o planalto central, até à margem do Zaire, onde nunca tinha tido qualquer expressão.
Foi uma verdadeira campanha de conquistas a que o MPLA fez vista grossa (mas preocupada), ante o controlo da ONU (com Margaret Anstee à frente) e do escrutínio de toda a comunidade internacional, até não poder mais ficar sem reagir. Manter a passividade por mais tempo seria "a morte do artista". E a guerra recomeçou, claro, com a Unita numa posição militar muito mais sólida do que alguma vez tivera antes das eleições.
O dr João Soares é um homem honesto, tout court; contudo, em honestidade intelectual não estamos nada bem, meu caro!
Então pelo caminho ficou o opositor de um dos candidatos? Olhe que não foi bem assim... um dos candidatos, retomada a guerra civil, viria a ser derrotado, sem apelo nem agravo, e a guerra só terminou com a sua morte (ao lado, com as famosas cuecas às risquinhas).
Quem o ler ainda pensa que, no calor das eleições, um candidato mandou os capangas matar o outro, assim, tipo Zimbabué... é essa a ideia que quer dar, assim à surrelfa, não é, dr Soares?
E, note-se, a guerra terminou de supetão, vendo-se, nos anos e eleições seguintes que a Unita, como partido político, representa muito pouco, da ordem dos 10% dos eleitores.
Convenhamos que é muito pouco quando, na campanha eleitoral de 1992 o seu chefão, discursando de camuflado e arma à cintura, mostrava um triunfalismo só comparável ao ódio que destilava contra os brancos, os mulatos e, em geral, todos os citadinos.
Pensaria o Muata que os discursos não eram gravados nem traduzidos?! Ou estava completamente confiante na vitória?
Mistério...
Enfim, graças à visita do Zé Eduardo, temos o João e a Maria Antónia de novo juntos para desagravarem o dr Savimbi tão vilipendiado, coitadinho, e irem lembrando as suas visitas à Jamba. Bons tempos, Maria Antónia; belos tempos, João...
Que belo trio, diria eu!
Os franceses talvez dissessem, simplesmente:
Qui se ressamble s'assemble...
2 comments:
Isto de África é assim:
Quando os 1ºs ministros ingleses resolvem apoiar um
Mandela e condenar um Mogabe,ou vice-versa, a oposição inglesa concorda e depois se vê.
Quando os 1ºs Min.portugueses apoiam ou desapoiam seja quem fôr, aparece logo um BLOCO, a cada esquina!
Já é crónico complicarmos!
Meu caro Septuagenário, a vida já é suficientemente complicada para a complicarmos ainda mais.
Mas a verdade é que as coisas nem sempre são tão lineares como muitos de nós as vemos, em alguma fase da vida.
Durante a guerra fria muitos "rapazes" viam os governos dos países de um e de outro bloco como seguidores fiéis (títeres) da potência guia.
Nunca explicaram muito bem como é que surgiam e se mantinham países, e até um bloco deles, claramente não alinhados com nenhum lado e outros que mudavam de um bloco para outro com toda a impunidade.
Desde que estivessem fora da órbita, da esfera de acção da potência guia, e fora do alcance da mão dela...
É claro que tanto o Savimbi como o MPLA (Neto e Zé Du) alinharam e desalinharam conforme as suas conveniências e interesses cagando-se de alto e de repuxo para quem quiseram, depois de garantirem os apoios necessários.
Mas isso é a política e, como diria o Mozart, mudando o género, cosi fan tutti...
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