Saturday, September 18, 2010

RECORDANDO O EDUARDO SANTOS

mais vale ser rico e com saúde do que pobre e doente

Nos últimos tempos tenho-me lembrado muito do meu amigo e antigo colega Eduardo Jorge Martins dos Santos, morto já lá irão sete ou oito anos por complicações no seguimento de um transplante de fígado com que pretendia travar a insidiosa e implacável Paramiloidose , a doença dos pèzinhos.

Conhecemo-nos quando o Eduardo foi trabalhar para Angola, para a TAAG, integrado num grupo de cooperantes, aí pelo início dos anos 80 do século passado. Grupo heterogéneo onde em cerca de uma dúzia de pessoas havia de tudo um pouco, o Eduardo destacou-se pela sua alegria, descontracção, facilidade de integração (na empresa e fora dela) e polivalência.

Tinha formação musical sólida, tinha feito parte do côro Gulbenkian (do principal) e tinha um curso do Conservatório de Lisboa.

Para engenheiro, não estava mal!

Já tinha dirigido vários côros de modo que, muito rapidamente estava a organizar um pequeno côro em Luanda, integrando malta da TAAG, basicamente recrutada entre os ditos cooperantes mais eu (na altura estrangeiro-residente, no fundo cooperante como eles...). Ensaiávamos na casa de um deles e fizémos, que eu me lembre, umas duas ou três apresentações ao público, mais ou menos restrito, antes do côro se dissolver.

O grupo de cooperantes foi regressando a Portugal, eu ainda por lá fiquei até fins de 88. Quando regressei a Portugal foi o Eduardo, que encontrei por acaso na FIL, que me arranjou trabalho nessa vetusta instituição por onde acabei por ficar mais de dez anos.

Na FIL o Eduardo e eu trabalhávamos quase na mesma área ele mais ligado às montagens de feiras e continuámos a partilhar uma bela amizade que terminou com a morte dele.

Tinha, entretanto, desenvolvido uma série de sintomas e maleitas que só ao fim de alguns anos se concluiu serem devidos a uma mesma doença, a paramiloidose. Diagnosticada um tanto tardiamente, já tinha produzido danos irreversíveis, sendo notório o andar um pouco trôpego que ele combatia com afinco tendo-se inscrito e dedicado às danças de salão (para além de côros, a que voltara), onde conheceu a segunda mulher de quem teve um filho - por quem ele ansiava desde há muito.

Fez um transplante de fígado que, não resolvendo o mal que a doença já tinha feito, evitava a sua progressão. Desgraçadamente, nos transplantes, pelo menos nos de fígado, continuam por resolver cabalmente os problemas de rejeição e a obrigar a um equilíbrio precário entre o mal que a ciclosporina e outras drogas fazem e o mal que evitam que ocorra.

Na doença, o espírito optimista e combatente do Eduardo impressionava-me imenso, não se deixando ir abaixo e continuando a trabalhar, a ir ao côro e às danças de salão, mantendo uma actividade invejável mesmo para um tipo mais saudável do que ele.

Foi a primeira pessoa a quem ouvi a frase:

Mais vale ser pobre e com saúde do que rico e doente?! o que faz sentido é que mais vale ser rico e com saúde do que pobre e doente.

Não muito ligado a políticas era mais ligado à igreja em cujas obras sociais participou na juventude. Desdenhava a malta que centrava a sua vida política na preocupação em hostilizar e acabar com os ricos.

É preciso acabar com os ricos?! dizia, o que é preciso é acabar com os pobres!

O Eduardo é das muito poucas pessoas de quem posso dizer, sem reservas:

Era um homem bom!

2 comments:

mac said...

Alegre com aquela alegria saudável que em vez de deitar abaixo manda acima!

Foi quem pôs a alcunha pela qual eu ainda hoje eu chamo a cria...

Marques Correia said...

É vero! Foi dele que partiu o Jimy...