O bacoco anúncio do padre Serras Pereira, que lhe proporcionou um pouco mais que 15 minutos de fama (veja, se quiser, a transcrição no post anterior), desencadeou uma onda de reacções na comunidade cristã e laica, quer nas tribunas dos colunistas encartados quer nas secções de cartas aos directores, tribunas dos leitores e quejandos.
Presumo que o famigerado Fórum TSF e o equivalente da Antena 1 tenham batido os records de intervenções indignadas, palavrosas e, como de costume, patetas e/ou enfatuadas. Só presumo porque, quando a busca do rádio do carro pára num desses fóruns, fujo deles como o diabo da cruz (fugirá?!) e refugio-me na R. C. Português que, a horas iguais, dá muita música e pouca treta.
E, para treta (também tenho direito), já chega, e entro no que queria dizer sobre o assunto:
O sr Padre tem todo o direito de dizer as maiores bacoradas e quem o contesta tem igual direito de o fazer, com maior ou menor veemência e indignação. Já não estamos no tempo da Inquisição nem no verão quente de 75, de modo que cada um pode (e deve) dizer o que pensa e defendê-lo sem receio de ir dentro ou de levar com uma bomba no carrito...
Mas era giro que "a gente" percebesse que o sr Padre fornece um produto aos fiéis (ou, se quiserem, vende um produto aos clientes) e é a esses que ele se dirige. E as condições em que um produto é fornecido costumam ser definidas por quem o fornece, de modo a conseguir uma maior saída de forma duradoura. E parece um bocado "esquisito" que quem não está interessado no produto se preocupe tanto com as condições que o fornecdor estipula para o fornecer.
Os clientes do padre, os "fiéis", supostamente pertencem a um grupo de pessoas unidas por uma série de regras e "mandamentos", grupo tornado coeso, coerente e longevo (vai para os 2000 anos de existência) por uma organização fortemente hierarquizada e centralizada. E, de tempos a tempos, governada com mão forte.
A generalidade das reacções ao que disse o sr Padre seguiu a vertente da contestação das suas ideias sobre aborto, contracepção, concepção assistida, investigação com células estaminais, redução fetal, conservação criogénica de embriões, eutanásia, clonagem. A ideia do padre parece resumir-se a "é assassinato de inocentes, logo é pecado", mas qualquer desses pontos daria uma boa discussão e os contestatários aproveitaram a oportunidade para condenarem o espírito medieval do padre e exercitarem a sua argumentação no sentido oposto ao do sacrista.
Muito poucas seguiram a vertente (que também se impõe) de discutir a legitimidade da proibição de dar a comunhão a quem viole cada um dos pontos que o padre refere. Sendo o anúncio dirigido aos fiéis, mais, aos fiéis praticantes, ainda mais, aos que praticam sob o ministério de Serras Pereira, era de esperar uma acesa discussão em torno de cada um daqueles pontos específicos e ainda alguma discussão sobre a legitimidade do padre ultrapassar a hierarquia e "botar regras" mais restritivas que aquelas que o Patriarcado e a Diocese consagram.
De qualquer modo, tranquilizem-se, oh cidadãos! Só são atingidos os fiéis e, mesmo estes podem sempre ir comungar à igreja ao lado ou à missa de outro padre menos fundamentalista...
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