Há dias, um deputado das extremas (PCP ou B (e) E), dizia em tom exaltado e indignado (esta gente indigna-se muito...) que as recentes medidas de facilitação dos despedimentos são um verdadeiro convite aos patrões para despedirem os trabalhadores.
Abanei a cabeça como se costuma fazer quando um puto faz um disparate de puto (que se há de fazer? ter paciência e esperar que ele cresça...) e continuei a fazer o que estava a fazer.
Mas anteontem, um colega lá da empresa meteu-se comigo (ele sabe que sou "laranja") com um argumento contra a facilitação dos despedimentos quase idêntico ao do tal deputado: desta forma os patrões vão-se fartar com despedir os empregados, vai ser uma desgraça; como é que esta medida vai gerar mais emprego? O que vai a contecer é o contrário...
Ora, então, eu expilico, devagarinho:
A posição do PCP e B (e) E (não a do meu colega que é mais inteligente que eles...) é de que o objectivo dos patrões é lixar, explorar e, se possível, despedir os trabalhadores das suas empresas. Isto é uma burrice pura e simples: pela "análise" marxista, o patrão precisa do trabalhador para lhe "sacar a mais valia" (bocejo...); pela observação e pelo bom senso, uma empresa sem empregados não funciona e o "patrão", o empresário, não lucra com o quiosque.
1ª conclusão a reter (óbvia, não?):
O "patrão", o empresário, precisa de ter trabalhadores para a empresa funcionar.
Assim, para a empresa funcionar bem (ser competiva e lucrativa), os trabalhadores têm que ser os necessários e com as características adequadas aos negócios que a empresa tem em carteira ou a que se candidata. Daí que quando a actividade está em baixa, os efectivos têm que ser ajustados em baixa, ou seja, a empresa precisa de despedir; quando os negócios se expandem, a empresa tem que contratar mais pessoal.
Se, para despedir pessoal, o empresário tem que fazer muita despesa (indemnizações, perdas por greves, custos com advogados, etc, etc, etc) o empresário pensará duas, três ou mais vezes quando precisar de contratar pessoal porque, quando os negócios estiverem em baixa terá dificuldades (e custos) em despedi-los.
2ª conclusão a reter:
Quanto mais difícil e caro for despedir, mais relutância terá o empresário a contratar, maior será a prevalência de trabalho precário.
Consequência imediata: defender o presente status quo serve os trabalhadores "antigos" (sindicalizados) e lesa os trabalhadores novos, à procura de emprego.
Claro que a facilitação do despedimento vai permitir às empresas despedir de imediato os trabalhadores improdutivos, calões e conflituosos, entrando para o seu lugar trabalhadores mais produtivos, mais baratos, com menos regalias "históricas" e mais vontade de trabalhar. Além disso, vai permitir à empresa ajustar os efectivos à medida dos negócios.
Isto é bom para as empresas (melhoram a produtividade, baixam os custos e baixam os riscos agora associados a contratar pessoal), é bom para os trabalhadores desempregados (vão ocupar as vagas dos calões e os novos empregos criados quando os negócios estão em alta) mas é mau para os trabalhadores "antigos" (sindicalizados, menos produtivos e mais caros).
Compreende-se assim a reação visceral dos sindicatos e do Prof Dr Manel Carvalho da Silva...
1 comment:
De modo geral também concordo que se deve aligeirar um pouco os despedimentos para dar mais hipóteses às empresas e aos jovens; mas não estás a ser um bocado simplista?
Toda a vida as empresas precisaram de trabalhadores e obviamente que os querem ao menor custo; o objetivo de uma empresa é fazer o maior lucro possível.
Foi necessária grande luta sindical para conseguir dias de descanso semanal, férias pagas, proteção na doença, essas coisas hoje triviais.
Acabo por concordar com o Soares quando diz que o que é necessário é o capitalismo com ética... E toda a gente sabe que ou a ética vem na lei (e mesmo assim...) ou então não existe.
Não sejas tão prestes a etiquetar como calaceiro quem tem dúvidas sobre estas mexidas!
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