Esta manhã ia caindo da cadeira ao ver na televisão o Jorge Coelho em amena conversa com o Miguel Relvas, sob a batuta do Mário Crespo. Dizia o Jorge Coelho que o PSD escondeu dos portugueses os valores reais do déficit, camuflando-os com as receitas extraordinárias.
Isto em campanha eleitoral (onde, desgraçadamente, vale tudo) vá lá, vá lá. Mas a campanha já lá vai e o cromo parece ainda não ter percebido duas coisas:
- primeira - que os países que subscreveram o Pacto de Estabilidade e Crescimento têm que o cumprir, ou, caso não o façam, sujeitam-se a sanções gravosas para o País (e não é só uma questão de prestígio);
- segunda - o PS está agora no poder (enfim, está a poucas semanas disso) e compete-lhe controlar as contas em tempo real e ao tostão para que, em tempo útil, possa arranjar as receitas extraordinárias necessárias para evitar que o déficit ultrapasse os 3%.
É importante que o PS perceba isto, porque no último governo do engº Guterres não só esse controlo em tempo real e ao tostão não foi feito como não havia na manga quaisquer medidas para obter receitas extraordinárias que compensassem a derrapagem. Resultado, o déficit estava fora de controlo e, dos cerca de 2,5% previstos, acabou por ultrapassar os 4%.
Só não houve sanções porque a ministra Ferreira Leite convenceu Bruxelas de que iria cessar o descontrolo das contas públicas e arranjar as receitas extraordinárias que fossem necessárias para evitar a repetição do incumprimento, nos anos seguintes. E, tanto ela como Bagão Felix, cumpriram a meta dos 3%, tão às claras que toda a gente (a oposição incluída) acompanhou a par e passo as medidas anunciadas para captação de receitas extraordinárias e os cidadãos puderam criticá-las, assim como Bruxelas, que, em devido tempo, recusou uma dessas medidas. No problem! a dita foi imediatamente substituida por outra que estava "na manga".
Como vai o PS fazer? Vai marimbar-se para os 3% e seja o que Deus quiser?
É um bom propósito querer ficar abaixo dos 3% sem recorrer a receitas extraordinárias. A chatice é que isso implica diminuir a despesa (fazendo "arrefecer" ainda mais a economia...), aumentando as receitas ordinárias (vai subir impostos?!) ou uma mistura doseada das duas.
Será isto compatível com as promessas (perdão, objectivos) eleitorais, quase todas elas implicando precisamente o contrário - aumento de despesa e/ou diminuição de receita?
Acorda Jorge Coelho, ou as coisa há-dem correr mal.
2 comments:
Oh Dr.Zeco! Será V.Exa economista?, gestor?, contabilista?
Que rigor de análise, credo!.
Que preocupação pec'ista!, que rigor europeísta!, que trêsporcentista!
Fôra alemão - ou francês, ou italiano,ou, ou, ou... - e, certamente, tal deficitfobia lhe não acudiria. Ou, quiçá, assobiaria para o lado?
Ai.
Pois (comovo-me, snif), acha V.Exa virtuoso vender anéis para que se pinte a fachada?
Pensa V.Exa que este mísero pseudo-país se compõe em País com maquilhagens como as da Manelita e do Felizinho?
Supõe V.Exa que o patinho feio dê em belo cisne simplesmente por golpe de varinha? Coelhos da cartola "and so on"?
Receitas extraordinária? T'arrenego, Satã... Património desbaratado, poder de intervenção perdido, un Estado pendurado numa gola cediça.
Se é deste modo - pindérico, pequeno, quase rural, quase-quase salazento - que nós, portugueses, vamos encarar o mundo que ajudámos a fazer, para o mal como para o bem, vale mais que estejamos quietos, que privatizemos o parlamento, o governo e a presidência, que os vendamos a quem der mais.
Sabe V.Exa que mais? Trabalhemos, carago!. Esforcemo-nos e passemos a vontade, o querer e a fé em nós próprios aos nossos filhos, aos nossos netos.
Antes que me esqueça: sou um "jovem do restelo" - e estou certo que V.Exa o é também, pesem embora divergências de superfície.
dr zeco,
Ai, ai as generalizações. Houve dois governos do eng.º Guterres, e no primeiro com o ministro Sousa Franco pela 2.ª vez após o 25 de Abril verificou-se a descida do défice e aumento do crescimento económico ( a 1.ª vez foi com a parelha Cadilhe / Cavaco. quero com isto dizer que não é prorrogativa do PSD nem tão pouco do PS ter uma boa governação na área das finanças / economia ( e o inverso também é verdade.
façamos votos é que o novo governo siga o exemplo desses que referi.
coimbrinha
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