Friday, April 21, 2006

Histórias do Mato III

Aqui vai mais uma estória dos velhos tempos da Angola colonial, contada pela protagonista, Raquel, mãe da nossa colega Teresa. A venerável banheira que a imagem mostra é o Nyassa, fotografado nos Açores durante a 2ª guerra mundial. Era um luxo, um verdadeiro paquete, ao pé do a seguir referido João Belo...

"Eu, Raquel Lacerda, achei-me em Angola com 17 anos, depois duma viagem no João Belo que demorou 21 dias, de Lisboa a Luanda, parando em tudo o que era sítio para se abastecer. O barco estava nas últimas (aliás foi a última viagem que fez!) e quase, quase se passou fome!

O Fernando, que por ter o Curso Superior Colonial, não passou por aspirante do Quadro Administrativo, foi colocado em Dange-ia-Manha, um posto isolado em que a nossa casa ainda tinha forro de esteiras e mobília feita de caixotes de sabão. É claro que o chão era de terra batida!

Estivemos uns dias no Dondo, em casa dum comerciante, o Sr. Jaco, que funcionava tambem como hotel. Nas paredes passeavam osgas brancas que era proíbido matar porque comiam os mosquitos mas que se desprendiam da parede quando lhes apetecia, indo cair dentro das camisas dos homens ou decote das senhoras.... um horror!

O Sr. Jaco participou que iríamos ter um belo petisco para o almoço: caldeirada de cabrito! Todos embandeiraram em arco, claro! Depois do almoço, bem regado e repetido, o homem participou que o cabrito....era macaco! Houve parvos que sairam à pressa da mesa para irem vomitar mas eu, a futura mamã de 11 criancinhas, muito grávida da Teresa, a 1ª da ninhada, resolvi ser franca e óbvia: a caldeirada assentara-me lindamente, não iria deitá-la fora! E fez-me óptimo proveito.

Dias depois fomos para o posto e pouco tempo depois passaram lá uns engenheiros que iam verificar a ponte sobre o Quanza que tinha estado avariada, não dando passagem a carros.

Um deles disse para o Fernando: "que porcaria de posto este, longe de tudo, só com uma casa...nem merecia uma bomba atómica!" - "uma quê?" - perguntou o Fernando. E para espanto dos engenheiros nós não sabiamos que a 2ª guerra mundial tinha acabado e o que era uma bomba atómica. Estavamos em 1945!"

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