Friday, April 21, 2006

25 de Abril, sempre?

Transcreve-se a seguir o Editorial do jornal APOIAR nº 40:

"Quando este número chegar a casa dos sócios, duas datas marcantes terão, entretanto, decorrido: o 25 de Abril e o 1º de Maio.

Vamos fazer algumas referências ao 25 de Abril, data "nossa" por excelência, deixando de parte o 1º de Maio que, com o seu folclore muito próprio, tem vindo a sair de moda, tal como a Páscoa cujo peso pagão, quase nulo, não consegue contrabalançar um significado religioso que cada vez nos parece mais estranho. Salvem-se os judeus e os mouros, cada vez mais agarrados às suas crenças.

No Natal, ao menos, o hábito das prendas e das comezainas à lareira disfarça e compensa a perda de sentido religioso cada vez mais notório nas nossas gentes (e nas outras também, por essa Europa fora...).

Voltando à vaca fria (afinal o 25 de Abril também tem vindo a arrefecer na razão directa do envelhecimento dos seus principais protagonistas), já no princípio de Abril se fez ouvir o Otelo a contar as suas estórias da época (ficámos agora a saber que o Spínola o encontrou a rua e lhe pediu opinião sobre se havia de publicar ou não o Portugal e o Futuro; p'ro ano teremos mais revelações, não perca!) e à medida que a efeméride se aproximava teremos ouvido o inefável Vasco Lourenço, talvez o Diniz D'Almeida (não é que o homem parece agora mais "calmo", quase normal?!), certamente o Marques Júnior (o mais normal de todos, Deus o guarde e conserve).

O 25 de Abril, golpe militar puro e duro, permitiu que o país se desenvolvesse sem os pesados lastros da guerra colonial e de governantes tacanhos e saudosos dos tempos do Botas de Santa Comba (ah! esses tempos!!!); entrámos para a Europa, abrimo-nos ao mundo, viajámos, lemos tudo, bebemos tudo, comemos tudo, vimos tudo, fumámos tudo (pois...) mas, realmente, não deixámos de ser um povo profundamente subjugado por um poder (quase) discricionário em que o Estado (quase) se limita a gerir o barco de modo a que os poderosos (de ontem, de anteontem e de hoje) continuem a prosperar à custa do Zé Povinho. Já viram quanto paga o Estado aos Administradores das empresas públicas? E já viram como os escolhe? Pois é...

Claro que o Zé é hoje mais exigente: já não aceita andar descalço, nem comer a côdea do pão (quero dizer, a côdea do pão), nem viver em barracas, nem sequer levar uns estalos da Polícia de vez em quando. Mas, se olharmos bem para o nosso dia a dia o que vemos?

Se queremos ter uma vida um pouco mais folgada (em dinheiro) temos que aceitar trabalhar 10 e 12 horas por dia (quase) sete dias por semana e ... cara alegre!

Entretanto, no que toca ao apoio ao cidadão deficiente, em particular àqueles que o Estado mandou para a guerra e de lá voltaram afectados fisica ou psiquicamente, os avanços têm sido mais no papel que de facto.

Foi produzida alguma legislação que consagra direitos aos ex-combatentes e deveres ao Estado, mas a regulamentação das leis tem sido lenta e penosa (o Estado tem aqui três velocidades: devagar, devagarinho e ... parado) de modo que os efeitos são escassos ou não se vêem de todo.

(...) Por tudo isto, mais que Zeca Afonso, este 25 de Abril lembra-me José Cid, quando cantava:

Nascia a flor na ponta de uma espingarda, para nada, camarada!"

2 comments:

Fátima Santos said...

tás belíssimo

Anonymous said...

Direi melhor:

"tás belíssimo"...

Bjs

Teresa Lacerda