Sunday, January 01, 2012

CRISE DE VALORES?!


O jornal "I" de hoje, que comprei à falta do Público, traz uns dados muito interessantes sobre a taxa de sobrevivência entre homens, mulheres e criança, tripulantes  ou passageiros, de 1ª, 2ª e 3ª classes.
Passando os vários gráficos em empada (ou queijo, ou "pie", como queiram...) para um único gráfico (ao lado), dá para comparar melhor a influência da "classe" na taxa de sobrevivência e perceber o que eram os "valores" naqueles tempos, supostamente muito superiores aos atuais...

Naquele tempo, ser pobre equivalia a ser passado para trás no acesso aos barcos salva vidas, ATÉ PARA AS CRIANÇAS!!!  

Não sei o filme Titanic é correto quando mostra as portas de grade fechadas a cadeado para evitar que aquele "gentalha" da terceira classe (gente de 3ª, pelos "valores" da época) invadisse os níveis superiores, e as mantiveram fechadas mesmo quando se anunciou o naufrágio. Vendo as taxas de sobrevivência, percebe-se para quê...

Reparem que as crianças da 1ª e 2ª classes sobreviveram a taxas superiores a 80% (100% para as 24 crianças da 2ª classe) enquanto que das que viajavam em 3ª classe sobreviveram umas escassas 34%.
Para as mulheres que viajavam em 3ª classe também a ordem "primeiro as mulheres e crianças" não fez grande efeito: a taxa de sobrevivência em 2ª e 1ª classes foi superior a 86% enquanto que das que viajavam em 3ª classe salvaram-se umas escassas 46%.

Nos homens, curiosamente, a taxa de sobrevivência entre os passageiros de segunda classe foi de metade dos da terceira classe que, por sua vez, foi de metade dos da primeira.

A taxa de sobrevivência dos passageiros homens de 1ª classe esteve praticamente ao mesmo nível que a das crianças de terceira classe...

Quanto aos tripulantes homens (em grande número, mais que o total dos passageiros homens) a ideia romântica de ir ao fundo com o navio não terá tido muitos adeptos pois os tripulantes se é certo tiveram uma taxa de sobrevivência inferior à dos "homens de 1ª", tiveram-na bem acima da dos "homens de 3ª" e mais do dobro da dos "homens de 2ª".

Por estas e outras, quando me vêm falar em crise de valores e que dantes é que era bom, cada um sabia o seu lugar, etc e tal, dá-me vontade de rir.


2 comments:

Septuagenário said...

Paguei 3 contos para viajar num beliche de porão Lisboa/Luanda, em 1957.

Como não havia icebergs, podiamos bater nas Selvagens, ou nalguma Bijagó.

Lá ia um futuro e heroi colonialista para o galheiro.

Mas penso que na hora do aperto furavamos imediatamente a bicha.

Os ingleses é que teem a mania de manter a linha.

Bom ano

Marques Correia said...

Bom ano, meu amigo!
Diria que a queda dos anglo saxónicos para a bicha já vem de longe, estou certo ou estou errado?