Comprei há pouco e estou a ler um pequeno livro de Winston Churchill escrito em 1908 a seguir a uma viagem que empreendeu pelo continente Africano, em particular pela África Oriental inglesa.
O livro tem, pois, mais de cem anos e foi escrito antes do seu autor se ter tornado mundialmente conhecido pela sua participação na Grande Guerra, como 1º Lorde do Almirantado, de, mais tarde, ter sido um dos heróis da 2ª guerra mundial, como 1º Ministro da Inglaterra, e de ter ganho o Nobel da Literatura.
O autor já tinha, contudo, ganho fama e conhecimentos da realidade africana ao ter estado como correspondente de guerra, participante e aventureiro na guerra dos bóeres, na África do Sul, a que ele se refere várias vezes neste livro.
Para além de descrever caçadas, paisagens e gentes (colonos, indianos e "aborígenes") o autor tece considerações sobre a evolução da África Oriental, então uma realidade recente no Império Britânico, em particular sobre o papel que poderiam ter nessa evolução os brancos e indianos, colonos e emigrantes protegidos como súbditos do Império Britânico.
Como branco nascido no fim do século XIX, não duvida nem por um instante de que a Europa tem as mais belas paisagens do mundo (para além de tudo o mais em que se manifesta a superioridade europeia...).
Este pecadilho revela-se com a comparação que faz entre as paisagens da África Oriental, que descreve com pormenor e sensibilidade, e as de outras paragens, considerando que podem superar as da África do Sul e da Índia. Mais, considera-as tão belas que até se podem comparar às dos mais belos países da Europa...
Winston Churchill tem a grande vantagem, para nós, que o lemos cem anos depois destes escritos, de poder pensar sobre o Império, os Protectorados, os colonos, os indianos e os "aborígenes" com objectividade e todo o distanciamento que lhe permite o facto de não precisar minimamente de África ou da Índia para enriquecer. Não é, pois, um colono a falar da evolução de uma terra longínqua, então protectorado, futura colónia - eventual terra de brancos.
O Protectorado Britânico da África Oriental estava, então, ainda hesitante entre continuar a "proteger" os reinos locais e evoluir para uma ou mais colónias.
No primeiro caso, prevaleceriam os interesses dos reinos locais, com a coroa Britânica a gerir os conflitos, a administrar a justiça do homem branco e a manter a ordem; no segundo, prevaleceriam os interesses dos colonos.
Churchill parece não gostar nada desta segunda hipótese, com milhares de colonos a devassarem os territórios, pondo tudo, recursos e população, ao serviço da sua sede de riqueza imediata.
Tudo isto é um bocado teórico, mas não deixa de ser interessante acompanhar os debates a que os europeus se dedicavam, teorizando sobre uma realidade que, já naquela altura, parecia fadada a evoluir para o estatuto de colónia, com os interessas dos brancos a prevalecer sobre os dos colonizados, mão de obra barata mas que tinha que ser "disciplinada" por ser composta por malta mais dada ao relaxe que ao trabalho... Afinal "o branco (...) não saíu do seu país para realizar tarefas duras" que serão "as funções do negro".
O jovem Churchill reflete ainda sobre o papel dos indianos na colonização da África Oriental, como comerciantes e como soldados, nomeadamente no direito dos países colocarem barreiras ou limitarem a imigração de pessoas de determinadas raças tidas por indesejáveis.
Refere com algum exagero a capacidade dos indianos para desempenharem a maioria das tarefas com maior sucesso que os brancos e, sobre os "aborígenes" pretos, refere a sua capacidade para aprender e para desempenhar tarefas mais ou menos complexas, se bem que no exército de Sua Magestade o seu papel se resumisse ao de praças.
Dou-vos algumas amostras para aguçar o apetite para um livro muito, muito interessante para quem se interessa pela história da colonização, em particular de África.
Essa história, nunca é demais dizê-lo, ainda está por escrever.
3 comments:
ora aqui está um assunto que me interessa : a colonização; tenho lido alguma coisa especialmente acerca da colonização de angola
fui eu que, por lapso dupliquei. sorry
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