Friday, November 13, 2009

CASAMENTO GAY (ou a cerveja sem álcool)

Para começar, uma declaração solene:

sou totalmente a favor do casamento entre homossexuais de todos os tipos: gay com gay, lésbica com lésbica e até gay com lésbica.

No problem!

Têm necessidade de que a sua ligação seja "autenticada" por um papel passado no registo civil, igualito ao dos casais hetero? Força, venha o referendo que eu voto (e faço campanha) a favor.

É um problema que não vale um caracol, não vale o esforço de discutir se o acesso ao casamento é um direito, se a sua privação é uma discriminação, se é uma questão de direitos humanos... não vale a pena: por causa de um mero papel, para quê esta perda de tempo, todo este desgaste?

Deixemo-los casar, carago!

Bem, este direito ao casamento não é assim tão amplo: mesmo o Bloco de (extrema) Esquerda, tão libertário, benza-o S. Neutel, mantém uma série de restrições burguesas ao casamento para todos:

  • mano com mana, não! (primo com prima, vá lá, vá lá...)
  • pai com filha, tampouco;
  • avó com netinho, muito menos;
  • casamento poligâmico e poliândrico também não!

Esqueci-me de alguma abominação ainda não "descriminalizada"?

. . . . . . .

Proclamado o meu apoio à coqueluche do momento, não me lixem! O casamento, como disse a Ferreira Leite antes de ser crucificada, tem uma longa tradição de ser uma união, com ou sem papel, entre homem e mulher com um objectivo central (nem sempre satisfeito, mas central, quand même): a procriação.

Mas em termos de história do Homem, a tradição nem é assim tão antiga: remonta apenas ao tempo em que as pessoas inventaram a escrita e passaram a anotar freneticamente quem possui o quê (terras, burros, vacas, cabras, escravos, mulheres), muito mais tarde quem vive com quem e quem é filho de quem.

Por outro lado, só muito recentemente (meio século?) é que a mulher passou a ser cidadã de pleno direito (países islâmicos à parte...), a trabalhar fora do "lar", a ter carreira profissional, a ser "pessoa" e, consequentemente, o casamento passou a ter uma tónica mais acentuada na satisfação (em sentido lato) de ambos os conjuges e não apenas na satisfação dos desejos e da vontade do "senhor". Daí uma acelerada descaracterização do casamento como meio de "perpetuar a espécie".

E pronto, aqui temos o casamento gay equiparado ao casamento hetero, assim a modos de cerveja sem álcool: tem o mesmo nome da "verdadeira" mas não é mesma coisa.

Digo eu, vá...

2 comments:

septuagenário said...

Somos mesmo periféricos, já há tanto tempo que os espanhois se entrecasam e alguns portugueses só agora se estão a decidir.

é sempre a mesma coisa, temos que andar sempre a traz dos outros.

O que vale é que nalgumas coisas se forem ordinárias depressa ultrapassamos os outros.

Não me admiro nada que casos como o de Elton John, se fosse em Portugal em vez de SIR já era LADY.

Marques Correia said...

Caro Septuagenário,
olhe que a coisa não bem assim. Segundo o Expresso de hoje, 7 países permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mais os USA, em apenas cinco estados. 26 países, entre os quais Portual, têm as uniões de facto legalizadas, em igualdade com os heterosexuais. 80 países proibem o casamento ente gays, dos quais 72 com penas de prisão (até à prisão perpétua) e em seis (Mautitânia, Irão, Arábia Saudita, Sudão Iémen e certas zonas da Somália e da Nigéria) os mariconços arriscam a pena capital.
Em Portugal, um dos 26 acima referidos (portanto, em oitavo lugar ex-aequo neste campeonato), está-se em vias de avançar para o casamento gay, a coisa é discutida tanto como a crise e o desemprego, pelo que não estamos nada periféricos e atrasados.
Pelo menoas nisto...
Um abraço,

MC