Tuesday, March 04, 2014

JOSÉ V. MALHEIROS - VARIAÇÕES SOBRE "PORTUGAL ESTÁ MELHOR MAS AS PESSOAS ESTÃO PIOR"



O jornalista cuja fachada mostro escreve para o Público crónicas inflamadas sobre as horrorosas maldades que a direita neo-liberal faz ao País (às pessoas, entenda-se) e as pérfidas intenções que escorrem de cada gesto, de cada palavra, de cada pensamento dessas horrorosas criaturas.

O Vitor Malheiros, desse eminente cidadão trato neste texto, divaga hoje sobre a tenebrosa frase do lider da bancada do PSD na AR, que tanto tem virado do avesso as mentes dos cidadãos da esquerda, delicadas e escassas de imaginação:

"O País está muito melhor, mas as pessoas estão pior". Mais coiso, menos coiso, terá sido isso. Que horrorrrrrrr!!!!

Claro que não sei exatamente o que é que o Monterroso queria dizer mas aposto singelo contra dobrado (é assim?) que é o óbvio: 

1. a economia está a caminho do equilíbrio das contas (caminho looooongo mas que é preciso iniciar), o desemprego está a cair há quase um ano, temos saldo comercial em vez de deficit (pela primeira vez em 70 anos), subimos uns furos no ranking da competitividade, etc, etc - logo o País está melhor. 

2. Isso foi feito à custa de apertar o cinto, cortar em tudo o que era excesso, também etc, etc, etc, logo as pessoas, nós outros, estamos pior, menos folgados, com menos para gastar.

Nem se percebe como (raio) se pode sair de um buraco, quase na bancarrota, gastando todos os anos mais de 10 mil milhões de Euros a mais (e endividando-nos em conformidade) sem apertar o cinto, sem empobrecer alguma coisa.

Foi assim nos últimos resgates também eles fruto das políticas "expansionistas" da esquerda (por acaso estávamos muito pior, a coisa "doeu" mais) como raio não seria neste?! 

Mas a leitura que o pobre diabo do Malheiros faz de tão óbvia frase é um colosso de "processo de intenções", de imaginação polarizada e tendenciosa. Leiam e aprendam como se faz.


"(...) Mas então que país é este que está “muito melhor” e que não são as pessoas? É simples: o “país” de que fala Luís Montenegro não é o nosso país. O “país” de que fala Luís Montenegro não é Portugal. 
O país” de que fala Luís Montenegro é, simplesmente, o capital.
O que Luís Montenegro quis dizer foi que “A vida dos trabalhadores não está melhor, mas a vida do capital está muito melhor”.
Basta substituir estas poucas palavras para tudo bater certo. 
A vida dos dirigentes do PSD está muito  melhor (basta ver como se congratulavam todos no último congresso).
A vida dos dirigentes do CDS está muito melhor. 
A vida dos banqueiros está muito melhor. 
A vida dos grandes empresários está muito melhor. 
A vida dos multimilionários está muito melhor. 
A vida dos advogados que trabalham para o capital está muito melhor. 
A vida dos empresários que baixam salários e despedem trabalhadores com o pretexto da crise está muito melhor. A vida dos empresários sem escrúpulos está muito melhor. 
A vida dos empresários que vivem à conta das PPP está muito melhor. 
A vida dos corruptos que nunca são condenados está muito melhor. 
A vida dos que têm as empresas registadas na Holanda e o dinheiro nas ilhas Caimão está muito melhor. 
A vida dos empresários da saúde que vêem as suas clínicas aumentar a facturação à custa da destruição do Serviço Nacional de Saúde está muito melhor. 
A vida dos empresários da educação que vêem as suas escolas aumentar a facturação à custa da destruição da escola pública e dos subsídios do estado está muito melhor. 
E depois, à volta destes, há um segundo anel de empresários de serviços de luxo, de serviços diferenciados” e “exclusivos”, que servem os primeiros, cuja vida está também muito melhor.
O que Luís Montenegro quis dizer foi que 
A vida do povo não está melhor, mas a vida da oligarquia que manda no país está muito melhor”.
Foi por isso que se congratulou. Porque ele faz parte dela.
Que isso constitua uma traição às promessas do PSD, à social-democracia que voltou a ter direito de menção no último congresso, ao interesse nacional, ao povo que o elegeu é algo que não preocupa Montenegro ou o PSD. 
Como diz com honestidade o multimilionário Warren Buffett, “há de facto uma luta de classes e a minha classe está a ganhar”. 
A diferença é que Buffett tem uma certa vergonha. E Montenegro não tem vergonha nenhuma."

jvmalheiros@gmail.com
Escreve à terça-feira (no Público)

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