Thursday, February 06, 2014

TAXA DE DESEMPREGO SEMPRE A CAIR EM 2013 - DESCULPEM-ME SER CHATO...



Não vi esta notícia no Público, vi a notícia e um gráfico (não este que aqui reproduzo) num noticiário da RTP 1 e não a vi reproduzida nos seguintes. Procurei-a com a box do MEO, andando para trás nos noticiários, mas não a localizei.


A baixa persistente e consistente da taxa de desemprego não é, pelos vistos, coisa que interesse tanto como a praxe. Há uns meses, quando "a coisa" começou, a esquerda afirmava, do alto da sua omnisciência, que era efeito da sazonalidade - que mais poderia ser, não é verdade?!

Com o evoluir da "coisa", a causa da baixa continuada da taxa de desemprego passou a ser a emigração. A emigração?! Será que esta malta não faz umas continhas (muito simples, garanto) antes de dizer bacoradas?

É claro que se tudo se mantiver e um desempregado emigrar, a taxa diminiu, certo. De igual modo, se um empregado emigrar em busca de melhores condições (e não são poucos...) a taxa sobre. Mas a sensibilidade da taxa a estes dois parâmetros não é igual.

Estou a falar de coisas estranhas? Façam lá as contas para ver qual seria a taxa de desemprego em Dezembro de 2013, partindo dos 17,3% de Dezembro 2012 e considerando apenas o efeito de 130.000 emigrantes desempregados terem ido buscar emprego alhures. Como os nossos "sábios" afirmam ser a causa da queda da taxa.

Sendo a população ativa (números de Nov 2012) 5.494.800 pessoas, sendo a taxa de desemprego em Dezemebro de 2012 de 17,3%, o número de desempregados era de 950.600 pessoas e o número de pessoas empregadas 4.544.200. Até aqui, nada de especial.

Mas suponhamos que durante o ano há 130.000 desempregados que emigram. Se não houver outros efeitos (é o que chama coeteris paribus - os restantes parâmetros mantem-se constantes para estudarmos o efeito de um único), ficaremos com menos população ativa e menos desempregados - é só tirar 130.000 àqueles números.

A taxa de desemprego em Dezembro de 2013 teria sido de 15,3% (ver coluna da direita do quadro ao lado), praticamente bate certo com o que diz o INE.

A sensibilidade da taxa de desemprego ao parâmetro "emigração de desempregados" calcula-se facilmente como (2ª coluna a contar da direita): quando 100.000 desempregados emigram, a taxa baixa de 17,3% para 15,8% ou seja baixa 8,9% (1,5 em 17,3); assim,  uma saída de 100.000 desempregados faz a taxa descer 1,5 pontos percentuais.


Vejamos agora o que se passa quando os emigrantes são pessoas empregadas mas descontentes com o seu emprego, ou com o que ganham, ou com as perspetivas de futuro ou ... whatever.

Vejam o quadro ao lado, em tudo semelhante ao anterior exceto num pormenor: é que quando um empregado emigra, baixa a população ativa mas o número de desempregados mantém-se inalterada (recordem-se, coeteris paribus).

Moral da estória, quando um cidadão empregado emigra, a taxa de desemprego sobe. A coluna da direita mostra o que sucede se 100.000 empregados emigrassem: a taxa de desemprego sobe, mas nada que se compare com a descida da mesma quando os 100.000 emigrantes são desempregados. A sensibilidade da taxa ao parâmetro "emigração de empregados" é muito pequena, é da ordem dos 1,85%! 

E qual teria sido o efeito se durante 2013 tivessem sido criados 100.000 empregos? Neste caso não há alteração da população ativa, o número de desempregados cai 100.000 e o de empregados aumenta 100.000. A nova taxa de desemprego teria caído para 15,5%. A sensibilidade da taxa ao parâmetro "criação de emprego" é 10,52%, ou seja, este é o parâmetro que mais influencia a taxa de desemprego, dos três cuja análise aflorámos.

Posto isto, é bom que recordemos que há muitos outros parâmetros em jogo. Sem termos dados mais precisos, estatísticas da emigração desagregadas que nos digam quantos emigrantes abandonaram um emprego para procurar outro "lá fora", quantos novos empregos foram criados, quantos foram "destruídos", quantos dos novos empregos foram "ocupados" por pessoas empregadas, que mantiveram o emprego anterior, etc, etc, etc, é pura especulação dizer que a causa da baixa continuada da taxa de desemprego foi devida a um único fator.

Fazê-lo é tentar confundir a realidade com o que desejaríamos que ela fosse.






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