Habituado aos novos tempos em que não precisei de tratar de visto prévio para ir ao Brasil, a Israel, à Turquia, ao Abu Dhabi, ao Dubai, a Marrocos, a Cabo Verde, a Cuba (neste caso tratou o operador turístico), ao México, a ter tido visto para a Índia de um dia para o outro (com cunha, mas, enfim...), dei por mim há pouco tempo a perguntar aos meus botões, preocupado, o que seria preciso tratar para ir aos States (afinal, acabei por não ir) pois constava-me que, mesmo para os bem comportados cidadãos da União Europeia, a entrada nos States não era assim à tão à balda como nos países que referi acima.
No blog Casa da Garoa (lembram-se do tango?) encontrei um post que é uma verdadeira delícia: A HUMILHAÇÃO SUPREMA.
Transcrevo a seguir, na íntegra. É um verdadeiro manual de burocracia que faria roer de inveja os nossos burocratas dos anos 50 e 60.
Não perca.
"Então chega o grande dia da humilhação suprema, de implorar aos burocratas a serviço do Grande País do Norte por uma autorização para poder gastar dólares no país deles. Dia esse que precisou ser agendado 38 dias antes, mediante o pagamento de taxa simbólica de R$ 38, e que começa já com uma fila na rua, formada por um funcionário que decide, depois de consultar uma leitora de código de barras, quem passa ou não pelo portão. Vinte minutos depois, já na segunda fila, do lado de dentro do muro mas ainda fora dos domínios consulares, um arrastão de funcionários solícitos e gritalhões vistoria as seis páginas de formulários que todos os aplicantes devem trazer preenchidas, indicando onde devem completar informações que faltam, o que escrever em cada um dos enigmáticos quadros.
Os gritalhões também zelam para que esteja lá, bem grampeado, o comprovante do recolhimento da taxa maior – essa nada simbólica, R$ 249 – que se tem de pagar para ganhar o direito de implorar pelo visto.
Mais 30 minutos se passam antes que você entre por uma porta blindada para ser aliviado dos seus eletrônicos, todos confiscados até a sua saída, e passe por um detector de metais que o libera para pegar a terceira fila do dia, a da senha. Senha esta que lhe dará o direito de pegar a quarta fila, 25 minutos depois, para o guichê da pré-entrevista, onde você chega em mais 20 minutos e ouve o atendente lhe dizer, gentilmente, que não pode usar óculos na foto, apesar de isso não estar escrito nas instruções daquele site onde você pagou R$ 38.
Você deve, então, pagar mais R$ 14 na lanchonte para tirar outra foto e voltar ao mesmo guichê para ganhar o direito de entrar na quinta fila do dia, onde espera bem 30 minutos antes que sua senha seja chamada para que você deixe para sempre seus dedinhos escaneados nos arquivos digitais do Grande País do Norte. Cumprido esse procedimento, você está liberado para aguardar na sexta fila do dia, a da entrevista propriamente dita.
E quando sua hora chega, 50 minutos depois, o Senhor do Visto, por trás de um vidro blindado e com a voz metalizada do sistema de som, pergunta sua profissão, o que deseja fazer no Grande País do Norte, e então lhe oferece uma chance única: você gostaria de ampliar a sua autorização de visita?
Se pagar mais R$ 102 no guichê ao lado, você poderá gastar seus dólares não só em passeios, mas também em pretensos negócios. E não precisará passar por toda essa humilhação de novo, caso lhe surja no futuro uma oportunidade de congresso ou evento profissional. Não, você não ganha de brinde facas guinzo nem meias vivarina, mas mesmo assim aceita a sugestão e encara a sétima fila do dia, para aliviar seu bolso na quantia exigida.
De volta à janela de vidro do Senhor do Visto, 15 minutos depois, você apresenta o comprovante do pagamento. Ele agradece, lhe entrega um papelzinho alaranjado e o orienta a procurar a oitava fila, onde você vai pagar mais R$ 19 reais – desde que resida na mesma cidade do Consulado – para que lhe devolvam o passaporte pelo correio.
Você não pode retirar o passaporte pessoalmente? Não, você é obrigado a pagar a taxa e torcer para que o Correio não perca o passaporte novo, que você acabou de fazer por R$ 156, só porque o antigo ia expirar dentro de seis meses e o Grande País do Norte se reserva o direito de não emitir vistos em documentos de viagem com validade inferior a esse prazo.
Mas e a autorização, está concedido? A voz metálica do Senhor do Visto soa ameaçadora: não pode lhe dar esse tipo de informação. Taxa do correio paga, você caminha cabisbaixo para o carro. E como passou três horas dentro do Consulado da Empáfia, morre com mais R$ 21 de estacionamento.
Quem é bom de matemática não precisará de esforço para saber que gastou R$ 599 para perder uma manhã de trabalho e voltar para casa sem a certeza de que será agraciado com tal visto
."Fantástico!!!
1 comment:
Mas afinal qual era objetivo da viagem??
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