Mão amiga enviou-me um link para um filme (cerca de 30 minutos) sobre Luanda.
É um verdadeiro documento sobre o que era Luanda 6 anos antes do início da guerra:
Praias onde quase só se vêem brancos com grandes barrigas e chapéu colonial (será?!), estivadores 100% pretos, mas também a baía sem assoreamento nem poluição, a ponte para a ilha estreitinha, a praia do Bispo ainda praia, o mamarracho da Maria da Fonte ainda em pé (era o edifício dos serviços de agricultura, salvo erro, a "fechar" a avenida dos Combatentes, que só foi abaixo nos anos 70, se bem me lembro...), a cidade irreconhecível sem edifícios de mais de 4 andares (nem sequer estava construído o edifício do l'Étoile - "do alto do mais alto arranha céus da Marginal..."), o edifício da Polo Norte (mais tarde sede da Sonangol por várias décadas) a destacar-se na paisagem, com sorveteiros empurrando os carrinhos dos sorvetes à mão, p'ra vender p'rós minino, etc, etc, etc.
Nestes etc é de destacar os sinaleiros, nas suas farpelas e capacete característicos, alguns eram verdadeiros dançarinos em cima da peanha.
Era bizarro ver os patrício a dar ordens nos branco e estes a acaterem - em geral acatavam - só nesta situação muito especial em que os semáforos ainda não tinham feito a sua aparição e tardariam mais uns bons 20 anos a fazê-lo...
A propósito da Maria da Fonte, o monumento, ele próprio um mamarracho bem ao (mau) gosto de Estado Novo, o filme mostra o que parece ser o innício das obras de mercado do Kinaxixi, recentemente demolido, contra a opinião da rapaziada que acha que, mesmo não tendo utilização como mercado há uns bons 20 anos, devia ser mantido (por quem?) como testemunho da arquitectura portuguesa dos trópicos (leia-se arquitectura colonial...).
Veja como quiser e o que quiser... mas clique no link e veja como era Luanda em 1955!
4 comments:
o link não está bem
Tks!
Já emendei e aproveitei para dar um jeitinho ao texto.
Gostei de recordar Luanda de 1955, cidade onde aportei em 1957.
Não só aquela data como aquela cidade são para mim inesquecíveis.
Aquela data foi para a maioria dos portugueses emigrantes, o virar da agulha: o que até ali o destino da maioria era o Brasil, de onde os meus primos já me queriam mandar a carta de chamada, passou a ser daí em diante com carta de chamada para Angola e/ou Moçambique, ou clandestinamente para a França. Das fronteiras das Beiras e de Trás-os Montes já se ia sem TGV para restaurar a França da II G. Guerra.
A par da data 57 em que fazia 18 anos iniciei a minha actividade profissional (nunca tinha trabalhado), precisamente nos Serviços de Portos e C. Ferro como praticfante de escritório, onde fui conhecer os carregadores da estiva que se veem no filme a carregar sacos de café.
E as coisas que me ficaram na memória dessa cena a que assisti durante meio ano foi a quantidade de café que era embarcado 24 por 24 horas por milhares de carregadores durante vários meses.
Outra coisa que me impressionou foi a caracteristica de alimentação que faziam que inicialmente qualquer um estranhava.
Mal adivinhava que dali a 4 anos, eu como sargento de dia na tropa iniciava no RIL o refeitório único das praças brancas e indígenas, em que estes todos entusiasmados começaram a pegar no garfo e faca para comer batatas e arroz, mas saiam a correr para a portaria onde estavam mulheres pretas a cozinhar funge com oleo de palma.
Outra coisa que o filme me faz recordar é um barco pequeno que se vê na baia a acompanhar a marginal no princípio do filme, que eram uns barco de pesca que largavam à tarde de um cais perto do Banco de Angola, e que regressavam de madrugada depois de pescar toda a noite, e como traziam peixe! Era impressionante a quantidade de peixe, daí em Luanda o peixe ser tão barato para quem ia daqui.
Outra coisa que o filme me recorda, foi a protecção que a ilha sofreu(que deixou de ser ilha, quando fizeram a ponte que não é ponte, pois não tem vão) que se se abrir o Google hearth verifica-se os espigões de pedra que o porto e os seus engenheiros projectaram e executaram para salvar a ilha e o porto de Luanda.
E o filme chamou-me a atenção pois eu já conheci essa protecção em andamento por estar a trabalhar no porto. A ilha ia desaparecer sem isso.
Gostei de ver as barroca da Boavista e do colégio de São José de Cluny que no 25 de Abril já estavam regularizadas.
O sinaleiro que se vê junto à Lello já não havia em 1957. Ou pelo menos raramente estaria lá.
A desorganização na urbanização dos bairros era do piorio. Mais tarde a Câmara e Obras Públicas já tinham uns engenheiros a melhorar.
Vou rever.
molto intiresno, grazie
Post a Comment