Marques Correia
Os últimos tempos foram dominados pela crise dos reféns no Irão, pela vitória do Botas no concurso para o melhor português de todos os tempos e ainda pelo rescaldo do referendo ao aborto, versão 2.
Deixo passar a questão dos diplomas do 1º Ministro (e das aldrabices na UNI) por manifesta falta de interesse para o comum dos mortais, quanto mais para os ex-combatentes.
A questão dos soldados ingleses aprisionados pelo Irão acabou em nada, o que permite concluir que os partidários da confrontação com o grande Satã e seus acólitos talvez não tenham tanto poder como os sound bytes do sr Ahmadinejad podem sugerir.
Ainda bem, que de guerras e mortos já aquela região tem que chegue e sobre.
Quanto ao concurso para escolher o maior português de todos os tempos, ficámo-nos pelo prolongamento póstumo da luta entre o regime autoritário e retrógrado de Salazar, com a Pide como tropa de choque, e o PCP, defensor da implantação em Portugal de um regime copiado da pátria dos amanhãs que cantam (ou cantavam...) e do Grande Pai Stalin. O concurso foi, pois, desvirtuado, se alguma virtualidade encerrava, com este regresso à guerra fria para consumo doméstico.
Uma outra interpretação, talvez rebuscada, fornece uma hipótese de explicação do modo como o Estado (ou a sociedade, por procuração) trata os ex-combatentes: cerca de 60% dos votantes no dito concurso apoiam Salazar ou Cunhal, ou seja, se a amostra é representativa, 60% dos portugueses consideram os ex-combatentes com stress de guerra como traidores (lembram-se da posição da Liga nos tempos do general Pinto Magalhães e do Prof Herlander Duarte?) ou como defensores do colonialismo e do Estado Novo.
Se calhar a falta de apoio, a falta de seguimento que têm tido as leis que, a duras penas, são produzidas na AR, a sistemática penúria de verbas, se calhar nada disso é fruto do acaso.
Dá que pensar...
Na última Assembleia Geral da APOIAR foi apresentado aos sócios o novo esquema de financiamento do Ministério da Defesa Nacional que aponta no sentido de um corte significativo no apoio do Estado às associações de antigos combatentes, o que poderá conduzir a uma diminuição da actividade que estas associações desenvolvem, substituindo-se ao apoio que as instituições públicas de saúde deveriam prestar.
Só a gestão rigorosa e parcimoniosa que tem sido conduzida pela Direcção da APOIAR permitiu que esta nova atitude do Mindef não tivesse tido consequências gravosas no funcionamento da APOIAR já em 2006.
A famosa Rede de Apoio aos ex-combatentes continua por realizar e não parece estar mais próxima hoje do que quando foi anunciada já lá vão uns quantos anos.
Com a nova política de financiamento das associações adoptada pelo Mindef e sem a Rede avançar, parece inevitável que o apoio aos ex-combatentes corre o risco de se degradar, se não mesmo voltar aos níveis de há anos atrás, quando só o Júlio de Matos prestava algum apoio às vítimas do stress de guerra.
Terá mesmo que ser asim?
Quando vai o Estado ganhar alguma vergonha?!
3 comments:
olha que não lembra ao...seilá se calhar lembra...porventura só me não lembrava disto eu...(me rio e isso me vale!) isto é um mimo de raciocínio, um pedacinho que dizer de rebuscado é abuso, claro. Um suquinho que penso colocar nos meus tesouros.
Omessa que este homem tem coisas!
Uma outra interpretação, talvez rebuscada, fornece uma hipótese de explicação do modo como o Estado (ou a sociedade, por procuração) trata os ex-combatentes: cerca de 60% dos votantes no dito concurso apoiam Salazar ou Cunhal, ou seja, se a amostra é representativa, 60% dos portugueses consideram os ex-combatentes com stress de guerra como traidores (lembram-se da posição da Liga nos tempos do general Pinto Magalhães e do Prof Herlander Duarte?) ou como defensores do colonialismo e do Estado Novo.
Pensando melhor, a coisa não é tão rebuscada como a pintam (ou como eu sugeri).
De facto, desde o tempo da outra senhora até há bem pouco tempo, "a direita" considerava uma heresia (até uma traição) tudo o que beliscasse a ideia de que os soldados iam para África defender a Pátria, e convictos disso.
Por outro lado, desde o 25 de Abril até há bem puco tempo, "a esquerda" olhava os ex-combatentes como uma espécie de "fachos", amantes da porrada e dos tiros. E pensava isso, a tal esquerda, ainda ligada aos tempos do amargo exílio na boémia dos bairros de Paris, para onde a miúfa os conduziu (tinha que meter esta, eheheheheheheheh).
Ou seja, os órfãos de Salazar mais os saudosos de Cunhal têm ou tiveram atéhá bem pouco tempo a atitude comum de se cagarem de alto e de repuxo para a tropa de África.
Sejam eles 60% ou pouco menos...
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