Será que parei no tempo? Para mim, um restaurante é um sítio onde se come, onde se valoriza a qualidade (e o preço associado), a variedade da escolha disponibilizada, o ambiente, a higiene, o serviço e por aí fora.
Mas é muito claro que a comida é o principal num restaurante e tudo o mais é a envolvente, são as condições para podermos apreciar (degustar, para ser mais fino...) aquilo que se escolheu.
Será que isto é ser antiquado? Será ter parado no tempo? Se é, que se lixe!
Vem isto a propósito de um domingo, o último, em que fui desaguar com a minha idolatrada (que não gosta de comer fora e é uma chatice para a tirar do remanso do lar...) a um tal Torricado, no Campo Pequeno.
Tínhamos falhado o Richard's (fechado ao domingo) e a Portugália (bicha enorme, para a saleta encolhida pelas obras...) e as hipóteses não eram grandes, dado que procurávamos uma sala para fumadores. Lembrámo-nos das esplanadas cobertas do Campo Pequeno e, depois de analisar os menus expostos cá fora, atacámos o tal Torricado.
O patrão recebeu-nos com uma breve explicação de que serviam comida tradicional (porreiro, pá!) mas não tinham batatas fritas e essas coisas. Comecei a ficar receoso, mas lá nos sentámos...
Ao lermos a lista, de trás para frente de de frente para trás, e depois de termos perguntado ao patrão se tinham alguma coisa parecida com bife (pela leitura da carta não tinhamos chegado a nenhuma conclusão) - disse que não tinham - apercebemo-nos de que estávamos num local onde a especialidade não era comida mas sim um conceito.
O tal conceito (que não se comia) era assim a modos que a gente dialogava longamente com o empregado de mesa e construía o menu que iríamos comer (dentre o que estava listado, bem entendido). Na mesa do lado, duas brasileiras e um brasileiro dialogaram com o empregado uns bons 20 minutos, depois de terem estudado (é o termo) a lista uma boa meia hora e pareciam estar deliciados com o conceito (com a comida, pareceu-me que não tanto).
Afinal, para não irmos (mais uma vez) cair à Churrasqueira do Campo Grande (tem uma ampla parte da sala principal para fumadores) lá encomendámos pastéis de massa tenra, ela, e pastéis de bacalhau, eu, acompanhados, ambos, por uma açorda que percebemos ser uma espécie de papas de milho malandrinhas, com legumes à mistura e uns bocados de tomate por ali espalhados.
Os pastéis de massa tenra não eram maus, mas não tão bons como os do Frut'Almeida; os pastéis de bacalhau eram muito bons, valha a verdade (bati os brazukas aos pontos: escolhi em cinco minutos o que eles levaram 50 a escolher, depois de muita análise, reflexão e consulta ao empregado). O interior dos pastéis era uma espécie de bacalhau à Brás, enrolados em aletria cozida (parecia...) e tudo passado pelo forno. Sem gozo, estavam excelentes!
À parte os pastéis de bacalhau (que, tal como os de massa tenra só como em snacks, ao balcão e a correr...) o restaurante é uma boa merda! Pouca variedade, muito barulho, ementa muito pouco explícita, um zero absoluto em pratos "normais" - devia mesmo ter provado o bacalhau torricado; como dá o nome à casa, talvez se aproveite.
Portanto, NÃO VÁ AO TORRICADO, mas se quiser ir, vá ao site e tire primeiro todas as dúvidas que a ementa (e o conceito...) não deixarão de lhe suscitar.
E depois... diga-nos como foi.