Não, não! Não vou referir-me (mais uma vez) ao Paulo Merdoso, definitivamente integrado na vida normal de pessoa íntegra, bom chefe de família e temente a Deus. Esse passou à história ... até surgirem novos factos ou pessoas dispostas a apreciarem de outra maneira os factos velhos. Não!
Hoje volto ao tema d' Os Merdosos, figuras da nossa sociedade, sempre prontas a salientar-se em defesa das causas mais idiotas, quase sempre danosas para o bem da comunidade, mas com uma legião de seguidores, pessoas bem intencionadas e ingénuas (fica bem o naïf?) ou sofisticados merdosos disfarçados de bons samaritanos na versão moderna: amigos do ambiente, amigos dos animais, amigos do património.
No fundo, no fundo, amigos do alheio.
Vem isto a propósito dos Movimentos de Cidadãos que se formam espontâneamente sempre que um Governo ou uma Autarquia avança com uma medida "ousada", sem ouvir as forças vivas. Ou ouvindo-as, mas não acatando o seu douto diktat.
Todos vemos que o Património Construído, mesmo o que está classificado (desde interesse municipal até património mundial) beneficiando de verbas para a sua conservação, está a degradar-se a olhos vistos, simplesmente porque o País é pobre (não é? Olhem que sim, olhem que sim...) e a conservação de edifícios não utilizados pode ser sempre adiada (quase) sine die. Já a conservação de hospitais, escolas, etc, pode ser adiada mas com menos elasticidade, pelo que a sua conservação sempre se vai fazendo.
Uma solução para recuperar e manter de forma sustentada (ena!) muitos edifícios classificados é, simplesmente, atribuir-lhes usos que gerem receitas que permitam que haja sempre dinheiro para a sua conservação. Isto faz-se um pouco por todo o mundo, até em Portugal. É preciso ser rigoroso na definição do que se pode e do que se não pode fazer com o edifício e rigoroso na fiscalização do que efectivamente se faz. Isto consegue-se, normalmente, com venda a privados, com um contrato que garanta o tal programa do que se pode e não pode fazer.
Três bons exemplos:
O cinema Condes, glorioso mamarracho dos tempos dos grandes cinemas, foi salvo da ruína pela sua conversão em Hard Rock Café; manteve-se o essencial do edifício que passou de mais uma ruína na baixa de Lisboa a edifício vivo, atraindo pessoas, gerando emprego e gerando as receitas para a sua conservação.
O cinema Eden, outro glorioso mamarracho dos tempos dos grandes cinemas, obra de autor (Cassiano Branco, talvez) foi salvo da ruína pela sua conversão em Hotel, Loja do Cidadão e Megastore (este já encerrado); tal como no Condes, manteve-se o essencial do edifício que passou de mais uma ruína abandonada e deserta na baixa de Lisboa a edifício vivo, atraindo pessoas, gerando emprego e gerando as receitas para a sua conservação.
O Hotel Pestana Palace, que de palácio abandonado foi transformado em hotel de luxo, com obras em que o IPPAR (creio que já era IPPAR) esteve constantemente envolvido.
O novo edifício e a passerelle de vidro geraram controvérsia, mas o Palácio foi restaurado, por dentro e por fora, e é mantido sem qualquer dispêndio de dinheiros públicos.
Um péssimo exemplo, o palácio de Benagazil:
A CML decidiu por à venda uma série de palácios, com um programa bem definido de usos e um menu do que se pode e não pode fazer.
Claro que já há uma série de cidadãos e de associações dos ditos, a contestar o terrível crime de privatizar o património.
Esse bando de facínoras prefere ver o património arruinado em mãos públicas do que restaurado e a dar lucro (palavra terrível, para eles!!!) em mãos privadas (outra palavra terrível, para essa gente).
Vejam como estava há cinco anos a fachada do Palácio Benagazil. Não vos mostro como estava por dentro porque tive acesso ao interior num levantamento que fiz para a CML e não me parece correcto fazer uso do que fotografei nessa qualidade.
Mas quanto ao exterior, qualquer pessoa pode ver a desgraça a que aquilo chegou.
Esses bardamerdas que se agarram ao património até às últimas (nefastas) consequências têm a mesma atitude dos pais tradicionais face às filhas que namoram tipos das classes baixas, pretos ou monhés: "preferia vê-la morta, a casada com um preto!"
Outro caso, o do Tribunal da Boa Hora, para onde se perspectiva um hotel de charme, também já há o grupo de habituais merdosos que quer que o tribunal lá continue, sem condições, sem conforto, sem espaço mas... com memória!
Haja paciência!