Sunday, February 09, 2014

DANIEL SAMPAIO, AS DESIGUALDADES E OLHAR VESGO SÓ PARA UMA FACE DA MOEDA...



O meu saudoso amigo Eduardo Santos dizia, referindo-se à tineta dos nossos colegas de esquerda contra os ricos:


"O que é preciso não é acabar com os ricos, é preciso é acabar com os pobres!"

O triste texto do irmão do Jorge Sampaio, politicamente correto como tudo o que exsuda aquela mente brilhante, centra-se no horror de haver cada vez mais ricos e, ainda mais horrível, de os ricos serem cada vez mais ricos a ponto de os 85 mais ricos do mundo possuírem o mesmo que a metade mais pobre da população mundial.

Que coisa horrível! 

Presumo que o que era porreiro para esta alma simples era sacar a riqueza a esses tipos pornograficamente ricos e "distribuí-la" pelos pobres.

Não interessa nada se com esse "saque" os ricos se vissem forçados fechar as empresas e atirar centenas de milhar para o desemprego nem que essa "distribuição", tão solidária, representasse apenas uns bifes e umas cervejolas para os tais 3.500.000.000 que constituem a metade mais pobre, em nada lhes mudando a vida e a pobreza.

Isso não interessa nada! O que interessa é a "moral" da coisa, a "solidariedade", a "distribuição equitativa" da riqueza...

Aos amantes destas tretas também pouco interessa se os ricos do nosso tempo herdaram as "fortunas" ou se as criaram com as ideias e o trabalho de uma vida, se na sua criação deram e continuam a dar trabalho a milhares ou milhões de pessoas se vale a pena, se interessa, ou não estimular o surgimento de outros milionários, de outras empresas, se mais "postos de trabalho".

Também não lhes interessa se os megamilionários do nosso tempo, enfim, muitos deles, estão envolvidos em atividades de solidariedade (sem aspas uma vez que envolvem o seu dinheiro e não o dos outros...), de combate à pobreza, de promoção da saúde (a fundação Chapalimaud não lhes diz nada, claro, e a Gulbenkian é um dado adquirido) - até certamente terão a subida lata de achar que isso é apenas "caridadezinha"...

E, last but not least, essas almas politicamente corretas, que adoram lançar o seu olhar de desprezo para cima dos ricos e para o aumento das desigualdades, não têm a honestidade, a hombridade, de reconhecer que este sistema que cria ricos e desigualdades também elevou e continua a elevar o nível de vida dos pobres (só a África, a Ásia islamizada e parte da América do Sul e Central tardam a apanhar a onda) que, comparados com os pobres da minha infância, de pobres só têm a etiqueta.

Mas isso (acabar com os pobres), isso é que não lhes diz rigorosamente nada!

Thursday, February 06, 2014

TAXA DE DESEMPREGO SEMPRE A CAIR EM 2013 - DESCULPEM-ME SER CHATO...



Não vi esta notícia no Público, vi a notícia e um gráfico (não este que aqui reproduzo) num noticiário da RTP 1 e não a vi reproduzida nos seguintes. Procurei-a com a box do MEO, andando para trás nos noticiários, mas não a localizei.


A baixa persistente e consistente da taxa de desemprego não é, pelos vistos, coisa que interesse tanto como a praxe. Há uns meses, quando "a coisa" começou, a esquerda afirmava, do alto da sua omnisciência, que era efeito da sazonalidade - que mais poderia ser, não é verdade?!

Com o evoluir da "coisa", a causa da baixa continuada da taxa de desemprego passou a ser a emigração. A emigração?! Será que esta malta não faz umas continhas (muito simples, garanto) antes de dizer bacoradas?

É claro que se tudo se mantiver e um desempregado emigrar, a taxa diminiu, certo. De igual modo, se um empregado emigrar em busca de melhores condições (e não são poucos...) a taxa sobre. Mas a sensibilidade da taxa a estes dois parâmetros não é igual.

Estou a falar de coisas estranhas? Façam lá as contas para ver qual seria a taxa de desemprego em Dezembro de 2013, partindo dos 17,3% de Dezembro 2012 e considerando apenas o efeito de 130.000 emigrantes desempregados terem ido buscar emprego alhures. Como os nossos "sábios" afirmam ser a causa da queda da taxa.

Sendo a população ativa (números de Nov 2012) 5.494.800 pessoas, sendo a taxa de desemprego em Dezemebro de 2012 de 17,3%, o número de desempregados era de 950.600 pessoas e o número de pessoas empregadas 4.544.200. Até aqui, nada de especial.

Mas suponhamos que durante o ano há 130.000 desempregados que emigram. Se não houver outros efeitos (é o que chama coeteris paribus - os restantes parâmetros mantem-se constantes para estudarmos o efeito de um único), ficaremos com menos população ativa e menos desempregados - é só tirar 130.000 àqueles números.

A taxa de desemprego em Dezembro de 2013 teria sido de 15,3% (ver coluna da direita do quadro ao lado), praticamente bate certo com o que diz o INE.

A sensibilidade da taxa de desemprego ao parâmetro "emigração de desempregados" calcula-se facilmente como (2ª coluna a contar da direita): quando 100.000 desempregados emigram, a taxa baixa de 17,3% para 15,8% ou seja baixa 8,9% (1,5 em 17,3); assim,  uma saída de 100.000 desempregados faz a taxa descer 1,5 pontos percentuais.


Vejamos agora o que se passa quando os emigrantes são pessoas empregadas mas descontentes com o seu emprego, ou com o que ganham, ou com as perspetivas de futuro ou ... whatever.

Vejam o quadro ao lado, em tudo semelhante ao anterior exceto num pormenor: é que quando um empregado emigra, baixa a população ativa mas o número de desempregados mantém-se inalterada (recordem-se, coeteris paribus).

Moral da estória, quando um cidadão empregado emigra, a taxa de desemprego sobe. A coluna da direita mostra o que sucede se 100.000 empregados emigrassem: a taxa de desemprego sobe, mas nada que se compare com a descida da mesma quando os 100.000 emigrantes são desempregados. A sensibilidade da taxa ao parâmetro "emigração de empregados" é muito pequena, é da ordem dos 1,85%! 

E qual teria sido o efeito se durante 2013 tivessem sido criados 100.000 empregos? Neste caso não há alteração da população ativa, o número de desempregados cai 100.000 e o de empregados aumenta 100.000. A nova taxa de desemprego teria caído para 15,5%. A sensibilidade da taxa ao parâmetro "criação de emprego" é 10,52%, ou seja, este é o parâmetro que mais influencia a taxa de desemprego, dos três cuja análise aflorámos.

Posto isto, é bom que recordemos que há muitos outros parâmetros em jogo. Sem termos dados mais precisos, estatísticas da emigração desagregadas que nos digam quantos emigrantes abandonaram um emprego para procurar outro "lá fora", quantos novos empregos foram criados, quantos foram "destruídos", quantos dos novos empregos foram "ocupados" por pessoas empregadas, que mantiveram o emprego anterior, etc, etc, etc, é pura especulação dizer que a causa da baixa continuada da taxa de desemprego foi devida a um único fator.

Fazê-lo é tentar confundir a realidade com o que desejaríamos que ela fosse.






Saturday, February 01, 2014

LUIS MOITA - UM OLHAR SOBRE O PASSADO


No ciclo de conferências que a Antena 1 tem estado a transmitir, pelos 40 anos do 25 de Abril, sobre tortura a presos políticos, ouvi hoje umas passagens (ouço rádio quase só no carro...) que me impresionaram vivamente.

O contraste com as narrativas em que se auto enaltecem os "heróis" (porque foram vítimas, muitos deles pouco ou nada fizeram de útil à sociedade) e se vituperam os algozes, transformados em monstros geneticamente diferentes de nós outros, incapazes (juramos nós e batemos no peito!) de matar uma mosca, quanto mais de arrancar-lhes as asas e deitá-las à lareira...

Luís Moita (lembro-me dele como o Padre Luís Moita, de antes do 25 de Abril, na capela do Rato) foi muito sóbrio no que disse e o que me impressionou foram duas coisas (não tenho as palavras exatas), mais ou menos isto:

- não me importa muito quem eram os pides que me torturtaram, não retive o nome da maioria deles; se ou não tinham prazer no que faziam - provavelmente eram, no resto, pessoas normais, com uma vida normal, que ao fim do dia de serviço iam para casa, para a família...

- este é um tempo pós anti-fascistas e, no entanto, muitas pessoas continuam a legitimar muita coisa com o seu antifascismo..

O Luís Moita que me desculpe se não consegui reter as palavras exatas mas parece-me que o sentido não se perdeu.

Lembrei-me logo do "nosso" Mário Soares que, já no século XXI, na última aventura como candidato a PR, se descreveu a si próprio como o "anti-Salazar"! É muito triste quem não encontra, nos últimos 40 anos, (Salazar governou até 1968, ano em caíu da cadeira) qualquer coisa de bem feito para apresentar aos eleitores...

Quanto à primeira frase, não posso deixar de me lembrar toda uma geração de "antifaxistas" que ascenderam ao Poder por direito próprio (acho que é o que eles acham...) apenas pelo seu anti salazarismo que, as mais das vezes, se resumiu a levar umas bordoadas da polícia.

Ou, como o eterno Alberto Martins, levantar-se (em 1969, por amor da santa!!!) e dizer "peço a palavra"...