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EDITORIAL
Este número do APOIAR é distribuído em plena crise do não Orçamento para 2011.
A qual é uma sub-crise da crise em que Portugal está mergulhado vai para mais de um ano (upa, upa, dirá o leitor, upa, upa!).
A qual, por sua vez, se desenvolve dentro da crise mais geral (por via da bendita globalização...) inicialmente chamada do sub-prime.
Esta, por seu turno, processa-se dentro do que muito boa gente diz ser uma das crises cíclicas do capitalismo que, segundo alguns teóricos, já o deveria ter levado ao seu fim.
No meio disto tudo, senhores muito competentes e bem preparados, uns no Governo outros nas oposições, trabalham arduamente para nos salvar (a nós e à Pátria, dizem).
A bem dizer já nos andam a tentar salvar desde meados do século XIX e, que se tenha visto, só o Botas de Santa Comba conseguiu que o país vivesse com o que tinha durante um laaaargo período. Vivia pobrezinho, limpinho, temente a Deus e à Nossa Senhora de Fátima, servidor atento e obrigado aos chefes e chefinhos (as várias polícias lá estavam para o manter na linhaça...), mas, a verdade é que o Banco de Portugal foi enchendo os cofres (com dinheiro, em vez de, como de costume, se encher de notas de empréstimo, sempre a crescer), foi enchendo, enchendo, enchendo, para os ditos se esvaziarem com estrondo nos primeiros tempos do pós 25 de Abril.
O desgoverno de quem nos governa já vem de muito longe e o mal que o País é governado só é comparável com o bem que essa gente se tem governado.
O nosso povão, mais espertalhão que esperto, topa-os muito bem e justifica a sua governação com o simples ditado “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte é tolo ou não tem arte”. Eles têm-na...
E assim vamos vivendo em pleno século XXI governados por um sistema que pode garantir montes de liberdades (podemos chamar cabrão, chulo e ladrão a qualquer ministro ou ao primeiro deles, que ninguém nos vem à mão; ganda liberdade, pá!!!) mas não nos garante o governo sábio e competente da coisa pública. Desde logo porque o sistema é desenhado de modo a garantir sempre a existência de duas entidades antagónicas, o Governo e a Oposição, que, imediatamente a seguir à tomada de posse do Governo, entram em confronto: este, tentando governar; aquela tentando por todos meios minar a acção do Governo.
A Oposição é, pela sua natureza multifacetada, composta por vários partidos, logo não é una na sua acção. Só que, para nosso mal, toda a Oposição converge num ponto: minar a acção do Governo. Aí é o povão francês que explica a coisa: “... quando se trata de malhar nos chuis, todo o mundo se reconcilia”. Neste caso é no Governo, mas ideia é a mesma.
A ver vamos no que isto dá mas, como dizia um amigo meu não há muito tempo: parece-me que a coisa não vai correr bem...
No meio de tanta austeridade, tanto corte, tanta redução nos subsídios, pensões, salários, etc, etc, é de esperar que sejam (como sempre!) os mais vulneráveis, os pobres, os desempregados, os pensionistas, os reformados, os velhos, os deficientes, os doentes que mais vão sofrer com a crise. Ora os ex-combatentes encontram-se distribuídos por estes grupos e vão ser dos mais afectados por mais esta crise.
Não acredito nos efeitos benéficos de uma greve geral, efeitos que, sobre uma economia débil e em crise, são sempre mais negativos que positivos. Mas, estando o Governo e parte da Oposição manifestamente a mostrar uma grande insensibilidade para com os mais vulneráveis e uma grande relutância em cortar nas despesas supérfluas e sumptuárias, confesso, caros leitores, que cada vez me parece mais que uma grevezinha geral contribuirá para mostrar a quem nos governa que tem que virar a tesoura dos cortes para outro lado.
Quem tem que pensar no equilíbrio das contas públicas e na preservação do sistema financeiro não o deve fazer à custa de quem, por força das circunstâncias, viveu uma vida inteira a equilibrar orçamentos domésticos escassos e, mesmo assim, muitas vezes, conseguiu comprar uma casa, um carrito e pôr os filhos na Universidade.
O Ministro das Finanças teria muito a aprender com esses portugueses se tivesse humildade para tanto...
Marques Correia