A propósito da inauguração da extravagante torre/moradia de 27 andares, um misto de duplexes, triplexes e, aparentemente, quadriplexes (pelo que se percebe das fotos que a Publica traz hoje...), que terá custado mil milhões de dólares e terá demorado sete anos a construir, o articulista, um tal Mark Magnier, discorre sobre os bilionários pouco dados a solidariedade e filantropias, antes mais virados para a ostentação do que têm.
Aqui está um tema que vende, bem condimentado com as diferenças abissais entre ricos e pobres, e inimagináveis entre muito ricos e muito pobres.
Isto, claro, a propósito da torre/moradia ter sido implantada no meio de (ou com vista para) um bairro da lata de Mumbai (o novo nome de Bombaim).
O articulista esquece-se, não sabe, ou a "ideologia" não o deixa ver que as décadas de iniciativa estatal pouco ou nada trouxeram de bom para os pobres da Índia, para além de lhes dar o gozo duvidoso de não terem tido por muitos, muitos anos de se confrontarem com os exibicionismos dos bilionários.
Bilionários que no tempo da Sra Indira Ghandi, do seu paizinho e do seu filho, tudo primeiros ministros, se contariam pelos dedos de uma mão.
Esse gozo só pode mesmo ser mazoquista: desde que a Índia enveredou por uma certa liberalização da economia (os esquerdalhos ladrarão já: pois, é o neo liberalismo!!!) que esta entrou num ritmo de crescimento acentuado à la BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) de que resultou o aparecimento até agora de, segundo a Pública, 69 bilionários e 42.800 milionários, quantidade actual desses espécimes.
Isto é um ultrage para o povo trabalhador!, ladrarão em uníssono orquestrado o sindicalista e o comuna, sedentos de acabar com os ricos. E dirão, pensativamente, um para o outro: "se eu mandasse, camarada, ia já tudo para a Sibéria..."
Mas, afinal, qual o significado da existência de tantos e cada vez mais ricaços na Índia? Para os esquerdalhos, maiores diferenças entre ricos e pobres, mais exploração, o agudizar das contradições de classe e por esse caminho fora.
Para os pobres, significa mais oportunidades de trabalho com todas as consequências habituais: mais emprego (precário, claro!), menos fome, mais hipóteses de os filhos estudarem, melhor saúde, mais esperança no futuro.
Naturalmente que o pobre gostaria de ter um Ferrari como o patrão (também eu, carago!), de ter pelo menos uma das mansões dele e de ter as amantes boazonas como as do patrão. Já não falo dos barcos e helicópteros...
Mas isto representa um salutar elevar de expectativas em relação ao que ele, o pobre, aspirava antes do bilionário montar a fábrica que lhe dá trabalho, onde o explora horrorosamente com mais umas centenas de antigos camponeses transformados em desempregados e biscateiros esfomeados na grande cidade.
É que antes disso, ele apenas aspirava a ter que comer nesse dia, que no dia seguinte (se houvesse dia seguinte) logo se veria...
E pronto! A moral desta estória é simplemente o que o meu saudoso amigo Eduardo Santos (recorde-o aqui) dizia:
Acabar com os ricos? Que disparate, devemos é acabar com os pobres!