O texto que se segue é a reprodução de um artigo publicado na revista APOIAR, órgão da Associação para apoio ao ex-combatentes vítimas do stress de guerra.
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A Estrela do Obama
Tenho acompanhado a estrela Obama (quem não tem?!) desde que apareceu no firmamento da comunicação social, praticamente no início das últimas primárias, nos States.
Duas características o levaram de imediato a uma posição de destaque: a sua bela voz (e os dotes de orador, diria mesmo, de pregador) e, fatalmente, o facto de ser mulato. Para os camones ele não é mulato, é “negro”, mas a verdade é que para eles tudo o que não seja irlandês ou próximo disso, tem que levar algum rótulo que marque a sua condição de não branco: preto, hispânico, italiano, judeu, chinoca, índio, monhé e por aí fora.
Se bem que a última administração americana tenha tido vários “negros” em posições de destaque, incluindo dois Secretários de Estado, a verdade é que ter um presidente “negro” era coisa quase tão impensável, há escassos meses, como impensável era ter uma mulher na Casa Branca, sem lá estar como mulher a dias ou, vá lá, como primeira Dama. Isto já sem falar na improbabilidade de ter como Presidente um gay assumido (sem ter saído do armário, parece que foram mais que um).
Afinal, acabámos mesmo por ter na Casa Branca um Pregador “Negro”, no qual todas as esquerdas da costa leste americana e da Europa depositam desproporcionadas esperanças. E digo desproporcionadas porque o que se espera do Obama, ao que parece, é que seja tudo menos um Presidente Americano e se preocupe não com o bem estar e os interesses dos americanos, mas com as idiossincrasias da rapaziada que viveu oito anos frustrada com a presidência do Bush filho que, grande malandro!, se preocupava com a segurança dos americanos e depois, só muito depois, com os direitos humanos de putativos terroristas e outros suspeitos.
Também não lhe perdoam, naturalmente, que essa política tenha redundado em sete anos livres de atentados em solo americano e num fim de mandato com o Iraque praticamente pacificado (veja-se o que foram as eleições de Janeiro).
Olhando para além das aparências e procurando mais informação sobre o político, vemos que Obama é um Presidente muito, muito bem preparado para o cargo, nomeadamente no conhecimento do mundo fora da América, que é o habitual calcanhar de Aquiles dos titulares deste cargo. Não se via nada assim, pelo menos desde John F Kennedy – um mau Presidente, mas um Presidente cosmopolita, bom rapaz e mulherengo, bem ao gosto dos europeus. Isto para além de ser católico e ter uma mulher jovem, vistosa, afrancesada e aristocrática.
Obama teve o bom senso de escolher muito bem a equipa que levou para a Casa Branca, reunindo gente competente e experiente, desde membros do gabinete de Clinton, um membro proeminente do gabinete Bush (o Secretário da Defesa Gates, em grande parte responsável pela melhoria da situação no Iraque) e a sua arqui-rival na corrida à Casa Branca, Hillary Rodham Clinton.
Naturalmente, não nos podemos esquecer de que os interesses dos States não mudaram só porque mudou o inquilino daquela Casa e que toda a gente se lembra (lembra?) do triste resultado que deu o plantador de amendoins feito Presidente ter arvorado os direitos humanos em pedra de toque da política externa americana. Carter não só foi despedido ao fim de um único mandato como teve uma presidência desgraçada que culminou com a invasão da embaixada Americana em Teerão e a tomada de reféns, todos os que lá estavam, por uns longos e penosos quatrocentos e quarenta e quatro dias.
Em resumo, diria que Obama tem condições para fazer uma boa presidência, nos dois mandatos a que pode aspirar, mas calma, muita calma com as expectativas: o homem é Presidente dos USA e não a Madre Teresa de Calcutá!
Marques Correia