De tempos a tempos, o pessoal lembra-se de um general que se zangou por o Salazar não lhe dar os cargos a que ele aspirava e, vai daí, resolveu passar-se para o reviralho, mas numa posição de chefe, claro!
O livro publicado no cinquentenário das eleições presidenciais de 1958, por um neto do general (ou será já marechal?) Delgado mostra bem a vacuidade do personagem e explica por que é que a sua fundação é uma espécie de clube das IVA's (filha e mãe - sim ainda viva e centenária) em que a filha se tornou na guardiã da memória do Pai - já que pouco há para guardar e pouca gente para a investigar.
O livro do neto lê-se em meia dúzia de horas (saltando a palha que se encontrar sobre as diagonais, claro) e é elucidativo: em 1225 páginas (mais 118 de notas, bibliografia, índice remissivo, etc) metade contam a sua vida de pilar da situação (na página 555, a um ano das eleições, ainda se regista a sua tomada de posse como Director Geral da Aeronáutica Civil), 200 páginas dão conta da sua dissidência, campanha eleitoral e culmina com o exílio na embaixado do Brasil.
O resto é a história empolada da sua acção para liderar a oposição, com um espírito messiânico perfeitamente deslocado e uma convicção, que a realidade se encarregou de desmentir rápida e brutalmente, de que "o povo português" estava com ele e levantar-se-ia contra Salazar se suspeitasse que o general sem medo tinha cruzado a fronteira rumo a Lisboa.
Toda a sua triste acção entre a campanha eleitoral de 58 e o seu apagamento pela PIDE refletem este equívoco quanto à sua importância.
O neto descobre agora que o general não foi morto a tiro, mas à porrada. Brilhante, nos tempos que vão correndo, meter "tortura" no romance só pode contribuir para o tornar mais interessante e vender melhor.
Que coisa triste!
2 comments:
Bem esgalhado. Como em 1958 só se votava com 21 anos, eu não votei, porque alem de me faltar 1 ano, tambem não me metia na política, porque a minha cachola naquele tempo estava virada para outras leviandades. Embora, por exemplo o ex-presidente Jorge Sampaio que é mais novo que eu, mas mais evoluido, já acompanhou o General de perto. Dava-lhe para ali! Disse ele. Mas graças à vitória do General, bebi uns copos valentes, porque os meus colegas mais velhos, apareceram todos eufóricos com este grito de guerra "suemos mas ganhemos", e vai mais um copo. Passados uns anos, apareceu um boato, naquele tempo era tudo boatos, que a PIDE matou o General em Olivença, e que as passadas dele tinham sido denunciadas pelos comunistas. É pena que a biografia agora publicada seja tão descomunal, e nesta idade já é muito tarde.
Caríssimo Septuagenário,
curti bué essa do "suemos mas ganhemos", e vai mais um copo!
Só que o general não ganhou puto, aquilo foi só suemos, não chegou ao ganhemos, mas entretanto foi-se ficando pelo bebemos. Até que o Botas lhe deu sumiço, com ou sem arraial de porrada prévio.
Afinal estava-se a dar de comer a um milhão de portugueses e, como a televisão só estava no ar havia uns escassos 2 anos (mais copo menos copo) ainda não dava para constituir família nem para ocupar as noites de insónia.
E vai mais um copo, que a patroa anda com os azeites, ou quê, e sem televisão isto está mesmo uma pasmaceira!
1958 era fixe ... e eu tinha 8 aninhos e estava todo entusiasmado com a perspectiva de ir para a África, cum caneco!
E, já agora, bebo um copo à sua saúde e longevidade!
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