Marques Correia
Deixem-me começar por uma declaração solene, para marcar terreno e evitar más interpretações, lá mais para a frente: não sou monárquico! Também não sou republicano! Sou por regimes democráticos, pouco me interessando se são presididos por um rei, se por um presidente. Não tenho dúvidas de que preferia viver em Inglaterra ou em Portugal a viver no Zimbabwe ou na Arábia Saudita. Também preferi viver no Portugal de Salazar a viver, por exemplo, na União Soviética ou na Albânia; mais vale pouca liberdade do que nenhuma.
Posto isto, fiquei pior que estragado quando no meu País se evocou uma data histórica, o assassinato de um Chefe de Estado Português, e uma parte significativa de nós recusou a participação das forças armadas.
Porquê? Porque esse Chefe de Estado era um Rei e com isso o deputado Martins (uma espécie de porta voz desse espírito mesquinho e anti patriótico) receia que, com essa participação, estivessemos a defender a Monarquia! Isto, meus amigos, quase cem anos (CEM ANOS!!!) depois da implantação da República! No entanto, celebramos, na calma, D. Afonso Henriques, com tambores e fanfarras da tropa, ou não fosse ele o patrono do Exército. O deputado Martins, se calhar, também gostaria de proscrever D. Afonso Henriques?! Ninguem sabe o que vai naquela cabecinha oca...
Para não ficarmos completamente mal na fotografia, valeu-nos o Presidente Cavaco que não terá tido dúvidas em presidir à inauguração da estátua que honra o Rei D. Carlos, o Chefe de Estado a que ele sucedeu 100 anos depois, com alguns espécimens, no mínimo, duvidosos, pelo caminho. Haja juízo e vergonha, quando falta tudo o mais!
Em Timor, a contemporização deu os seus frutos: o major Reinado foi deixado à solta como se a sua recusa em acatar a ordem democrática vigente fosse coisa de relevar. O homem deve ter-se sentido legitimado para defender as suas ideias (se calhar referia-se a elas como “ideais”...) e ei-lo aí à frente de um bando armado a dar um golpe de estado (?), começando por tentar matar o Presidente e o Primeiro Ministro do jovem País.
Felizmente foi travado (e morto) mas o seu funeral mostrou bem que tinha seguidores que o consideram uma espécie de herói e que são muito capazes de alinhar com outro aventureiro qualquer que apareça a clamar contra a “ocupação estrangeira”.
No meio disto tudo, espero que a nossa rapaziada (GNR, PSP, professores, etc) continue a ajudar o novo País a erguer-se e prosperar. E, de caminho, que limpem o País de outros Reinados que apareçam a querer reinar a ferro e fogo sobre os seus desventurados concidadãos. (...)
2 comments:
Salazar, seus defeitos e virtudes
Salazar governou Portugal antes do 25 de Abril de 1974 e não poderá ser apagado da História.
Todavia há que compreender a época em que Salazar governou Portugal de 1926 a 1970: atravessou a guerra de Espanha, a Segunda Guerra Mundial, grande parte do período da "Guerra Fria" entre o Leste "comunista" e o Ocidente capitalista; Viu-se confrontado, em simultâneo, com várias guerras nas colónias portuguesas; Teve contra si tanto os países do Leste como os do Ocidente, incluindo alguns dos seus "aliados" da NATO.
As colónias portuguesas em África tinham que terminar, porque as grandes potências já tinham sido forçadas a abandonar as suas nesse continente e Portugal era demasiado insignificante para continuar orgulhosamente a mantê-las.
Na realidade, muitos desses países continuam ainda hoje a administrar territórios noutras partes do mundo, muito longe das suas metrópoles, embora utilizem outros epítetos em vez de colónias. Mesmo nos nossos dias, ainda não há muito tempo foi divulgado que a Inglaterra estava a pensar em reclamar como território inglês, uma parte da Antárctida, a que não deverão ser alheias as jazidas de petróleo encontradas. Como lhe irá chamar? Portugal ainda tentou mudar a designação de "Colónias" para "Províncias Ultramarinas”, mas não foi suficiente, porque algumas delas eram muito ricas e, por isso, também muito cobiçadas pelas potências dominantes; os EUA e a Rússia (então: URSS) que mantinham então uma "guerra fria", cujos reflexos se faziam sentir nas colónias portuguesas, havendo já então uma competição feroz sobre quem conseguiria ficar com o controlo desses territórios depois da saída de Portugal. As guerras nas antigas colónias continuaram após as independências, como seria de esperar, e só muito recentemente terminaram depois do fim da "guerra fria".
Quanto ao sistema político ditatorial de Salazar, era o comum na época em que o ditador governou, por isso não lhe dou demasiada importância, até porque ainda não me foi provado que o actual sistema democrático é o mais benéfico para os cidadãos, para além da liberdade de expressão (?) e de poderem pronunciar-se, de tempos a tempos, votando numa urna.
Mas a escolha daí resultante é sempre fortemente condicionada pelas opiniões que chegam aos cidadãos, as quais são habilmente manipuladas pelas opiniões subtilmente induzidas nos cidadãos pelos criadores de opinião, os chamados "Opinion makers" contratados pelas poderosas máquinas partidárias e pelas forças que dominam a comunicação social: a forma como são dadas as notícias ou até como não chegam a ser dadas as mais inconvenientes é um factor determinante quando chega a hora de escolher e votar. As sondagens e as tendências de voto também orientam a decisão dos eleitores na hora de votar. Porque votar em quem não irá formar o governo e ficará em 3.º, 4.º ou 5.º lugares? Junta-se uma boa dose de ignorância política e eis a fórmula que faz com que o governo alterne sempre entre os dois maiores partidos, cuja diferença são: criticar o opositor quando está no governo, mas quando o atingir, fazer exactamente o mesmo. Chamam a “alternância democrática”.
A censura prévia da época da ditadura foi substituída pela auto-censura actual. Quem não alinha com a linha do jornal, da estação de rádio ou de TV é excluído e fica sem trabalho. Será que alguém já pensou sobre os motivos que levam determinados magnatas a adquirir e a dominar a comunicação social, que nem sequer é uma actividade directamente muito lucrativa? As campanhas eleitorais e pré-eleitorais começam aí, na comunicação social e quem a dominar tem óptimas chances de chegar ao poder, directa ou indirectamente! As contas da campanhas de alguns partidos nunca correspondem aos reais gastos, mas o dinheiro teve que vir de algum lado. As forças económicas, financiadoras dessas campanhas eleitorais prestam favores a esses partidos e os favores são pagos mais tarde.
Não me ficam quaisquer traumas por Portugal ter sido um país colonialista, como o foram outros países Europeus. Alguns mantêm ainda hoje a administração de territórios longe das metrópoles em diversas partes do mundo, embora não lhes chamem "Colónias". Chamam-lhes "regiões autónomas", "protectorados", "territórios ultramarinos", etc.
Não desejo nenhuma nova ditadura para o meu país, até porque ninguém nos garante que o próximo ditador tenha algumas virtudes, pois pode ter só defeitos e exemplos são muitos pelo mundo fora, por isso, devemos ter cuidado. As maiorias absolutas também podem tornar-se em ditaduras eleitas democraticamente, por isso há que evitá-las também.
Zé da Burra o Alentejano
Obrigado, Zé da Burra, comenta sempre que quiseres mesmo que o teu discurso tenha muitopouco que er com o texto que comentas.
Tudo bem.
Com esse teu medo das maiorias absolutas que "também podem tornar-se ditaduras eleitas democraticamente, por isso há que evitá-las", com esse teu medo é que me lixas!
O bom esmo é uma grande bandalheira, um parlamentarismo à 1ª república, ora agora governas tu que a seguir à curva governo eu, o bom para nós era isso?!
A maioria absoluta garante que o governo pode marimbar-se para a oposição, é verdade, mas por um período bem delimitado e (isto é que é o segredo da abelha) desde que actue estritamente dentro do que a lei lhe permite.
Se não, cai (ou sai, como queiras).
Ditaduras?! Tás doente ou quê?!
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