Pois, pois, enquanto crise não se vai e o crescimento não se vem...
Enquanto o pau vai e vem, há costas que, longe de folgarem andam cada vez mais curvadas sob o preso dos problemas.
O meu cunhado dizia-me esta manhã ao pequeno almoço (encontrámo-nos, por acaso, numa esplanadazinha no Chinicato, muito agradável, com uma palmeira próxima) que as falências de empresas de contrução e ligadas ao ramo são mais que muitas, nunca viu nada semelhante. As Câmaras estão a pagar os salários com as receitas da água, luz, etc, mas não pagam à Águas do Algarve que, por sua vez, não paga aos forncedores e cancela tudo que eram obras previstas na rede. As obras estão praticamente todas paradas, as empreitadas previstas não foram lançadas e provavelmente não vão ser, isto nos equipamentos da Saúde, da Educação, das Obras Públicas...
As Câmaras e o Estado exigem cada vez mais dos fornecedores e empreiteiros e depois... não lhes pagam. Isto fez-me lembrar uma "cena" que me impressionou muito (há uns dez anos, talvez) com um empreiteiro habitual da Câmara de Lisboa que estava à beira da falência depois de ter feitos várias obras para a Câmara, na base da palavra do vereador (não interessa qual..) e, não conseguindo receber nada, foi falar com o diretor municipal de qualquer coisa (finanças, planeamento? whatever). Descreveu a situação em que se encontrava e disse que estava na iminência de ter que vender a carrinha ou de entregar as instalações onde tinha o depósito de materiais, etc. O tal diretor ter-lhe-á dito "ó sr XXXXX, não venda a carrinha, depois como é que vai continuar a fazer-nos obras?!" O empreiteiro (que andava na altura pelos 70 anos) ia-se passando mas... controlou-se e veio contar-nos. O homem não queria acreditar na desfaçatez do funcionário público!
Há malta a fechar empresas (falidas ou antes disso) e a raspar-se para a Alemanha ou para Angola.
O que o meu cunhado me contou não era propriamente novidade mas o que eu não tinha percebido era que a situação estava num ponto tal, como ele me descreveu.
A solução que "toda a gente" prescreve para o crescimento é a retoma (e o incremento) da despesa pública para manter a economia a funcionar. A chatice é que o Estado está empenhado e para injetaar dinheiro "na economia" tem que "ir buscar" dinheiro à banca (juros upa, upa!) ou à Troica que empresta a juro baixo mas quer ter uma palavra (a última, a decisiva, eheheh) sobre o modo como o dinheiro que empresta é aplicado.
Sem entrar naquelas ideias à la gauche de nacionalizar e subsidiar empresas "estratégicas", lançar programas de obras públicas ruinosas para manter o sector da construção (o mais afetado pela crise) a trabalhar, talvez o Governo devesse pagar aos fornecedores o que lhes deve, incluindo as dívidas das autarquias e das empresas públicas e, a partir daí passar a pagar a tempo e horas, ou seja, a 30 dias.
Isto representaria uma injeção de mais de € 40.000.000.000,00 (não esforce a cabecinha: são quarenta mil milhões de Euros) na economia, perfeitamente legítimos (era só o seu a seu dono) sem sombra de subsídio nem de criação artificial de emprego. Essa injeção teria potencialidades para pôr em marcha muita coisa que está parada e evitar que parasse muita coisa que está em vias de parar.
Será que a Troica não deixa?...