O Presidente polaco e a sua comitiva morreram ontem quando o Tupolev TU 154 em que viajavam se despenhou à aterragem em Smolensk.
Vejam mais sobre o acidente aqui.
O presidente polaco ia participar numa homenagem ao corpo de oficiais polacos assassinados em Katyn depois de aprisionados no desfecho da invasão russo-alemã à Polónia.
Depois, recordo, do arranjinho de partilhas entre o Grande Pai Stalin e Hitler...
Coisas que os comunas têm dificuldade em explicar e que, por algum motivo, tentaram esconder durante décadas alegando (com a cumplicidade das autoridades da Polónia "democrática") que os mortos de Katyn tinham sido assassinados pelas SS de Hitler.
Fiquei espantado quando a nossa televisão (uma delas, who cares?) (des)informava que o TU 154 era um dos aviões mais seguros construídos pela antiga URSS, com um registo de acidentes relativamente pequeno, etc, etc.
Fiquei espantado porque, não estando ainda (completamente) gàgá, lembrava-me que este avião e o seu mano menor TU 134 eram dos aviões com maior registo de acidentes entre os caixões aéreos que a Sóvia fabricou durante décadas.
Veja o registo completo aqui.
Mas, felizmente há luar!
Perdão, felizmente há internet, de modo que toca a ir lá buscar os dados para repor a verdade e elevar o meu ego (que bem precisa, com a entubação que arrasto há duas semanas...), mostrando o registo de acidentes do TU 154, do TU 134 e, já agora, do YAK 40, mais pequenito, mas também com um registo "invejável".
Os baixos padrões de segurança era característica dos aviões que a URSS fabricava e impingia aos seus satélites, desencorajados pelo Irmão mais velho moscovita de procurar alternativas para cá da Cortina de Ferro.
Reparem, contudo, que o registo de acidentes dos aviões ocidentais não era muito melhor e não era nada que se compare com os padrões actuais.
Vejam que o registo de acidentes do B707 não é muito diferente do que acima mostrei para os aviões soviéticos.
O IL 62 (famoso pelos tanques de água para optimizarem a posição do CG em vôo) já era um avião relativamente seguro (ver quadro ao lado), mas nada que se compare com os "novos" B757 e B767 cujo registo de acidentes mostra uma redução drástica em relação ao B707.
Desde há 20 ou 30 anos a segurança passou a ser levada muito, muito a sério e os melhoramentos introduzidos para permitir a operação transatlântica de aviões só com dois motores (ETOPS) resultaram num aumento espectacular da fiabilidade dos sistemas essenciais à aeronavegabilidade, em particular os motores.
O registo de acidentes do B757, um narrow body já descontinuado (basicamente um B707 com dois motores...) é notável: os 1050 aviões produzidos sofreram apenas 8 acidentes em que se perderam 578 vidas (cerca de 75 por acidente).
O B767, um wide body ainda em produção, apresenta um registo semelhante: 9 acidentes em 949 aviões produzidos até agora, com cerca de 95 mortos por acidente.
Os requisitos ETOPS (Extended Twin-engine OPerationS) conjugados com as novas tecnologias ou refinamento das antigas conduziram a aviões muito mais fiáveis e a acidentes muito menos fatais.
O registo de acidentes de aviões de topo dos tempos mais recentes, o Airbus A 340 e o Boeing B777 é absolutamente notável:
Num total de 1392 aviões ocorreram, durante toda a vida útil até ao presente, apenas 4 acidentes com zero vítimas mortais!
Vejam quão longe estamos dos tempos do turbo prop, do Superconstellation e do IL 18, em que a ocorrência de acidentes era da ordem de um acidente por cada 5,6 aviões produzidos, o que dá cerca de 18% de probabilidades de ocorrência de um acidente durante a vida útil do avião.
Comparando a probabilidade de acidente durante a vida útil:
Sup Const . 20,21%
IL18 . . . . . . 15,03%
B707 . . . . . 14,31%
IL62 . . . . . 6,85%
B767 . . . . . 0,95%
A340/A330 . 0,38%
B777 . . . . .0,17%
____________________
NOTA:
esta comparação e este cálculo de probabilidades não é para repetir em casa. A comparação só seria válida se todas as frotas comparadas tivessem uma utilização semelhante ao longo do tempo de vida (o que só pode ser aproximadamente verdade entre aviões da mesma época e envolvidos no mesmo tipo de operação).
Assim, encarem esta comparação como grosseira e que significa apenas a probabilidade de um avião de determinado tipo sofrer um acidente durante toda a sua vida útil.
De qualquer modo, a ordem de grandeza é válida e tem significado.