Quando soube que o Brandão Ferreira (cromo ao lado, tenente coronel reformado, comandante de linha aérea, historiador, whatever) ia lançar um livro, fiquei na expectativa do que iria sair dali. Conhecendo-o desde há muito das páginas do Combatente, órgão da Liga dos Combatentes, em artigos que se pautavam sempre pela defesa dos militares, putativos depositários de todas as vitudes, em particular do patriotismo, contra os civis, horrorosos detentores de todos os vícios, vende pátrias por vocação e interesse (por três vinténs - ou menos!) e inimigos acérrimos da instituição militar que não compreendem nem respeitam, fiquei cheio de curiosidade.
Como de costume, não consegui um espaçozinho na agenda para ir à apresentação do livro que o meu amigo João, que me tinha alertado para o evento, tinha informado ser sobre a Pátria. Comprei o livro dias depois do lançamento e uma leitura em diagonal larga confirmou ser o que eu esperava: uma defesa cerrada da Pátria do Minho a Timor, dos portuguesíssimos territórios a que tinhamos todo o direito (e cujas populações até não iam fora disso...) mas que os políticos esquerdalhos entregaram de mão beijada aos nosso inimigos sem ligarem à vontade das populações que, muito naturalmente adorariam continuar portuguesas, nem ao facto de a guerra estar a pender para o nosso lado.
Só uma prudênciazinha que se vai consolidando com a idade me levou a não postar de jacto e fazer mais uma leiturazinha do livro, pelo menos numa diagonal mais apertada que a inicial.
Agora, depois de uma leitura na tal diagonal mais apertada (não há saco para ler tanto disparate!) corrijo ligeiramente o que teria escrito há dois meses:
O livro é muito interessante nas partes em que faz o levantamento histórico de factos para ilustrar a evolução do conceito de justeza e legitimidade da guerra, no sentido lato e em seguida cingindo-se às nossas guerras.
É também muito interessante e bem documentado em tudo o que se prende com o levantamento de dados históricos, antigos e contemporâneos, sobre as descobertas, o direito dos estados europeus à posse dos territórios achados, a colonização, a nossa guerra e toda a envolvente geopolítica, diplomática, económica, social.
O homem espalha-se ao comprido - digo eu - quando interpreta os dados, ignora outros, despreza totalmente a mera possibilidade de os habitantes das colónias terem voz activa no seu destino, independentemente das bulas papais, dos tratados de Tordesilhas (e outros) e da Conferência de Berlim.
Mesmo para quem fez a tropa na metrópole era de esperar que 35 anos depois do 25 de Abril não escrevesse disparates como:
"... assisti (depois do 25 Abril) ao desmantelamento de umas magníficas Forças Armadas (...) que se batiam vitoriosamente em três teatros de operações (...) e sem generais ou almiramtes importados. Algo que já não acontecia desde Alcácer Quibir".
"... o que nunca tinha acontecido na História de Portugal foi a rendição incondicional, a meio de um conflito de baixa intensidade (que ainda por cima controlávamos e de que estávamos a sair vitoriosos)..."
"... a ideia de que (...) tinham feito uma guerra limpa, sem embargo dos inquisidores de serviço baterem a espaços na tecla de Wiriamu, à falta de outros exemplos..."
"...Portugal fez uma guerra justa e, além disso, tinha toda a razão do seu lado."
Fica-me a dúvida se o senhor tenente coronel, enquanto o conflito de baixa intensidade decorria, se limitava a ler a Época e mais tarde, na pesquisa que fez, excluíu todos os derrotistas a começar pelo general Spínola.
Como é que se pode ser tão BURRO?!