Completar-se-ão este ano, em Novembro, 20 anos sobre a queda do Muro de Berlim, construção bizarra erigida em 1961 pelos comunas (Ulbricht na antiga RDA e Krutchev na antiga URSS) para estancar o esvaziamento populacional da RDA a que se vinha assistir desde a ocupação do leste da Alemanha pelo exército vermelho, com milhares e milhares de cidadãos a deixar o leste para procurar a liberdade do lado de cá. Vejam mais aqui .
Não só a liberdade mas também a esperança de um futuro mais desafogado, que do lado de lá, estava mais que visto, para passar da cepa torta só sendo do Partido e, mesmo assim, para valer a pena ficar, só numa posição upa, upa!
Felizmente os nossos filhos já não tiveram que viver num mundo bipolar em que toda a gente tinha que torcer por um ou por outro lado (enfim, com matizes nas franjas extremas de um e do outro).
Depois de uma certa abertura, com o degelo de Krutchev, a URSS entrou numa fase de "normalização" e consolidação com Breznev, em que o Partido mantinha o férreo controlo sobre o país e satélites, mas de uma forma mais discreta e menos sanguinária que nos tempos do Zé Ferreiro. Discreta, note-se, porque o arquipelago de GULAG era um conjunto de locais onde a entrada e saída de notícias era fortemente limitada e o que se escrevia nos jornais, o que se dizia na rádio e o que se mostrava na televisão era tudo fortemente censurado.
A Europa Ocidental e, de um modo geral, os presidentes americanos davam-se por felizes por se ter chegado a um modus vivendi em que se evitava o holocausto nuclear, em que cada bloco respeitava as áreas de influência do outro e se limitavam a conflitos regionais, dirimidos por interpostas potências locais, fora das zonas de influência.
Até que Reagan chegou ao poder e tudo mudou. Reagan veio disposto a acabar com dois males que se arrastavem e cuja cura não se descortinava: o sindroma da derrota no Vietname (agravada pelo sequestro do pessoal da embaixada em Teerão e pela inabilidade do Jimmy Carter) e a guerra fria que se mantinha empatada, com sucessos pontuais esporádicos, de parte a parte.
Leigo em matérias económicas (e não só), mas com muita experiência como político e governante, Reagan apresentou um programa económico (baptizado de reaganomics - veja detalhes aqui) que ele sintetizou em três acções: squeeze, cut and trim.
Os seus detractores apontam o estado da economia, no fim do seus dois mandatos, como prova da sua incompetência. Apertar, cortar e ajustar deram no maior déficit que os States alguma vez tiveram (e numa sequência de deficits anuais) que só a meio do segundo mandato do Clinton viria a ser compensado.
Mas toda esta despesa teve um objectivo que foi plenamente alcançado: levar a URSS à falência, ou fazê-la desistir do braço de ferro a que Reagan a sujeitou.
Tendo crismado a URSS de Império do Mal, Reagan decidiu que os States precisavam de criar um sistema de defesa contra os ICBM (mísseis balísticos intercontinentais) russos que deixasse a América ao abrigo da chantagem nuclear em que se baseava a política de détante durante a guerra fria (e, afinal, ainda hoje).
Para tanto foi lançado o programa de Iniciativa de Defesa Estratégica, crismada imediatamente de Star Wars (veja detalhes aqui) com o qual se pretendia colocar em órbita satélites assassinos, detectores de lançamento de mísseis, espelhos para dirigir contra misseis e satélites inimigos feixes de laser de alta energia, emitidos do chão.
O programa nunca entrou na fase operacional e os poucos testes feitos, dos vários módulos, não foram particularmente bem sucedidos, mas bastou para pôr a nu a indigência da URSS e democracias populares (vulgo satélites) e a sua incapacidade para manter, em simultâneo, programas de melhoria das condições de vida da população e para acompanhar a parada da Guerra das Estrelas americana.
Ora a população soviética estava, naquele tempo, cada vez menos complacente com o baixo nível de vida, e cada vez menos paciente ante as explicações politicamente correctas que o PCUS dava para os sacrifícios que vinha a pedir aos russos desde a revolução dita de Outubro...
Criadas as condições para a implosão da URSS, com o empurrãozinho do Papa Wojitila e do Solidariedade Polaco, a queda do muro, o desmembramento da URSS, a desratização (perdão, a descomunização) da Europa de Leste e a reunificação Alemã foram uma sucessão de pequenos passos que nem 10 anos demoraram.
Por tudo isto, no ano da queda do muro de Berlim duas pessoas devem ser lembradas e deve ser-lhes dado o devido destaque como obreiros incansáveis e eficazes do fim do comunismo:
Ronald Reagan e João Paulo II