Tenho-me divertido bué com estas guerras do Min Educação (ou lá como se vai chamando, com o rodar dos tempos), quase tanto como os professores se divertiram quando, em grandes excursões, vieram de cú de Judas até à capital fazer a sua ganda manif. Com o devido respeito, parece que os sindicatos organizaram um evento para figurar no Guiness e toca de fretar autocarros para trazer os felizes participantes dos quatro cantos da parvónia (Lisboa incluída na dita...) para o pic nic de sucesso garantido, avenida abaixo.
Foi giro.
Giro também foram os depoimentos recolhidos, em que cada um estava ali por um motivo diferente, desde a estreia absoluta em manifs (esse era o motivo, na certa!) até às mais variadas reivindicações. Denominador comum, claro "está na hora, está na hora, da ministra ir embora". Não vai.
Os comentadores, nesse dia e na véspera, afinaram por diapasões diferentes, com o VPV a lançar a ideia de que a avaliação dos profs era uma parvoíce, o que eles queriam eram um ethos de excelência. Esta do ethos, vinda do Vasco, presta-se a várias especulações fáceis...
Metendo a minha colherada (que para isso aqui estou), a ministra meteu-se numa alhada do caraças, ao tentar fazer duas reformas ao mesmo tempo, pois é mesmo disso que se trata.
A reforma do sistema de ensino, com o objectivo de melhorar os resultados (péssimos) obtidospelos alunos - diminuir a taxa de abandono, aumentar a taxa de sucesso e melhorar dramaticamente o nível de preparação dos formados.
A reforma do dispositivo do Ministério, com o objectivo de conseguir o funcionamento da "máquina" com menos "energia", isto é, melhorar a sua eficiência, enquanto a outra reforma vai no sentido da eficácia.
A primeira reforma poderia ser feita com muito menos sobressaltos, uma vez que o objectivo é consensual e o caminho para ele, não sendo consesual, poderia passar, quando muito, por questões controversas como aulas de substituição (que horror!!!) e pouco mais. É uma reforma a que é necessário alocar recursos e que podia, sem grandes dramas, ser feita com os professores.
A segunda é um bico de obra que implica a racionalização de meios (fechar escolas com meia dúzia de alunos, ou menos), acabar com a progressão automática dos professores na carreira, passa pelo controlo de efectividade (de presença, pois claro!), por mexer na gestão das escolas (tendencialmente acabar com a gestão colegial por professores e voltar à gestão de um director, professor ou não - nomeado, de preferência, por quem gere todo o dispositivo), passa também por acabar, progressivamente, com sistemas de saúde e segurança social diferenciados para a classe, pelo corte dramático de lugares nas estruturas do Ministério, etc, etc. Esta reforma só muito, muito excepcionalmente poderia ser feita sem uma oposição constante, participada e sentida, mas também organizada, dramatizada e mediatizada, dos sindicatos e da maioria dos professores afectados - todos, principalmente os mais antigos. Fatalmente teria sempre que ser, assumidamente ou não, uma reforma contra os professores.
Para agravar a questão, como a terra não é farta, a primeira reforma carece da disponibilização de verbas libertadas pela concretização da segunda, ou seja, temos um molho de bróculos perfeito e bem atado!
A ministra tem, naturalmente, toda a minha compreensão... que lhe serve de muito pouco.