Wednesday, March 30, 2005

Grunhos na Administração da Vicaima

Ontem o folclore habitual da malta da Greenpeace acorrentada ao portão da Vicaima conheceu um episódio, no mínimo, estranho.

Um administrador (?!) com idade para ter juízo chegou-se ao portão, saíu do mercedão e ataca um reporter da SIC, com um ar de quem está de cabeça perdida, olhar desorbitado, um espectáculo!

Mesmo tendo esta gente em muito baixa conta fiquei parvo com a reacção do grunho, para quem o episódio do Greenpeace é uma coisa em que nunca terá pensado (?!!!) e para a qual não tinha engatilhada, pelos vistos, uma atitude ponderada, que melhor servisse os interesses da empresa que lhe paga o cartão de crédito, o mercedes e o resto. Que grande animal!

Como é que um grunho destes (para não lhe chamar outra coisa) chega a administrador de uma Vicaima?! Como é possível?!

É certo que não é raro toparmos com administradores de grandes empresas privatizadas (das públicas, é melhor nem falar...) que exibem uma incapacidade de bradar aos céus - nem é incompetência, é incapacidade pura e simples - para a vaga que lhe arranjaram, sabe-se lá como e por alma de quem.

Mas mesmo assim fico espantado e não me habituo à cena, nem acho normal!

Tuesday, March 29, 2005

Não aprendemos nada?!

Há pouco dei com um comentário ao post anterior que, por ser um estereotipo bem conhecido, merece destaque. Dizia a comentadora: "...Os portugueses (e quando digo portugueses, refiro-me àquela esmagadora maioria, que ainda tem a mania dos piqueniques à beira de estrada, com direito a garrafão de vinho, que definitivamente não sabe o que quer dizer "proibido estacionar nesta rua", pensa que o chão é um grande caixote do lixo, entre tantas outras coisas...) NÃO ESTÃO PREPARADOS para, como alguém muito bem disse, "aspirinas e pílulas do dia seguinte ao lado dos tampax"!!

Às vezes fico com a sensação que muito boa gente (não penso que seja a maioria, mas não serão poucos) fica tão espantada com as semelhanças que encontra entre oa tempos de hoje e de há décadas atrás, que não conseguem ver as diferenças que também há e não são poucas.

E então este argumento miserabilista (para amenizar o discurso...) de que as pessoas não estão preparadas, tira-me do sério, bolas!

Quanto um fabiano me diz que "ah, e tal, misturar referendos com eleições não pode ser porque confunde as pessoas" e eu lhe pergunte se o confunde a ele, a resposta é invariavelmente: "a mim não, posso responder a perguntas seguidas sobre assuntos variados que não me atrapalho".

Pois é, os outros é que são burros, limitados, impreparados! Os doutores que assim julgam os outros, "a esmagadora maioria dos portugueses", esses são uns águias.

Ainda por cima, sendo incapazes de ver as mudanças que marcaram o país de uma ponta à outra, conseguem, por outro lado, com um simples golpe de vista, aperceber-se do que pensa a "esmagadora maioria dos portugueses".

Tenham juízo e tenham a humildade de estudar, ler ... aprender.

Thursday, March 24, 2005

Farmácias nos hipermercados

Afinal a grande inovação do Sócrates era treta!

Ontem à noite apareceu na televisão um secretário de Estado (devia vir do hiper espaço, a falar em grandes superfícies com 500.000 m2 - isso mesmo, quinhentos mil!) a dizer que a venda de medicamentos sem receita médica fora das farmácias não podia ser à balda: será em espaço próprio (tudo bem, como a chicha, o peixe, a roupa e tudo o mais), e o cliente não chega à prateleira (oh diabo, atão, como é?!). O senhor explica: vai estar lá um farmaceutico para explicar tudo ao cliente, ir buscar o medicamento à prateleira, não deixar que os miúdos se sirvam e muito menos que alguém compre grandes quantidades de drogas. Ah, falta esta: pílulas do dia seguinte e coisas assim, mesmo sem precisarem de receita médica, têm que ser objecto de uma cuidadosa análise, que este governo não quer entrar numa de facilitismo!

Mas que merda é esta?!

É uma farmácia, ricos, é uma farmácia, como o Saleiro, muito bem, topou. Afinal vender medicamentos em grandes superfícies é, na versão do Sócrates, levar as farmácias para dentro das ditas.

Ou será apenas uma (mais uma) descoordenação entre o Sócrates e os seus voluntariosos discípulos?

Wait and see...

Monday, March 21, 2005

O Tribunal (só com acusação) do Iraque

Os órfãos da falecida Sóvia reuniram em Lisboa o seu Tribunal para acusarem e condenarem os horrendos imperialistas e inimigos da Paz que ousaram invadir o Iraque para matarem o seu pacífico povo, deporem os seus benignos e legítimos dirigentes e rapinar o cobiçado ouro negro.

Estes crimes não têm defesa possível e, por isso mesmo, neste tribunal não há lugar à defesa dos acusados, nem sequer a um simulacro de defesa, como se fazia nas mega encenações dos julgamentos de Moscovo, no tempo do Grande Pai Staline.

Isto explicou, en passand, o Zé Mário Vermelho, perdão, Branco, um dos figurões de serviço naquele tribunal de faz de conta.

O extinto Romesh Chandra, lá no assento inférneo onde desceu, deve ter ficado feliz por continuar a ter alguns continuadores da sua luta pela Paz, entendida como tudo o que possa causar dificuldades aos horrendos imperialistas amaricanos.

Pobres patetas!

Friday, March 18, 2005

Islamitas p'ra frentex?

Em Nova Iorque há uma mesquita onde oram homens e mulheres, em que o oficiante é uma mulher!

Será um sinal de progresso no mundo muçulmano, um sinal de esperança para as mulheres que professam aquela arcaica religião?

Vamos esperar e ver as reacções por esse mundo fora...

PS - os católicos que não cantem de galo, com os seus ministros exclusivamente masculinos e (pretensamente) assexuados.

Maus presságios...

O Governo apresentou em tempo record o seu programa ao Presidente da A.R. o que, afinal, não era difícil: é uma simples copy and paste do programa de candidatura às Legislativas, com muito pouco detalhe.

Dois sinais preocupantes

  1. o programa contém vários pontos de aumento de despesa, nomeadamente confirmação das SCUTs e subida das pensões, e nenhum de aumento ou recuperação de receita fiscal. Afirma que não vai descer impostos, nada diz sobre como vai arranjar mais (pelo menos) 800 milhões de Euros, que é a conta anual das SCUTs, sem o déficit subir e sem recorrer a receitas extraordinárias.
  2. o programa refere, mais uma vez, a revisão do PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento).

Moral da estória: o Governo prepara-se para subir impostos para nos fazer pagar o seu regresso às SCUTs, não acha possível (nem fala nisso!!) melhorar a cobrança dos impostos e prepara-se para deixar o déficit subir esperando que a UE altere o PEC...

Maus presságios, desta vez, Zé Sócrates. É uma no cravo, outra na ferradura.

Monday, March 14, 2005

Bons presságios

O discurso de posse do novo primeiro ministro trouxe dois factos que parecem de muito bom presságio:

- acabar com a longa fila de "notáveis" que iam cumprimentar os ministros recém empossados ("beijar a mão", mostrarem-se, etc);

- lançar a ideia de tirar às farmácias o exclusivo da venda de medicamentos (para já os que não carecem de receita médica).

A primeira acaba com o ritual pateta de ir dizer ao vivo, de preferência com as câmaras de TV a registar o acto, "estou aqui, se houver um tachito, conte comigo para o que der e vier". Pode dizer-se o mesmo ao telefone, por e-mail...

A segunda abre a porta ao mercado como regulador dos preços dos medicamentos função que, até agora, estava firmemente nas garras do grémio das farmaceuticas, com preços concertados prejudicando os utentes e o Estado.

Se esta medida vingar (há sempre a possibilidade de recuos de rabo entre as pernas...) sugiro já a próxima: tirar o exclusivo aos farmacéuticos da propriedade das farmácias.

Sunday, March 13, 2005

Ainda o edifício Coutinho

Dizia eu que o bom senso tinha prevalecido?!

Afinal o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, o meu antigo colega de tropa Defensor de Moura, médico do meu batalhão, continua empenhado em deitar abaixo o prédio, tendo esperança em que o novo Governo, da sua côr política, reconheça utilidade pública à sua demolição.

Vamos ver em que é que isto dá...

Os empata do costume...

A sede da PIDE está ao abandono há 30 anos. A zona em que se situa, se alguma atenção mereceu nas últimas décadas isso deveu-se à necessidade de sarar as sequelas do Grande Incêndio do Chiado, nos idos de 80. E ainda há muito que recuperar.

Agora que a zona começa a ser revitalizada, com empreendimentos imobiliários trazendo novos moradores, pessoas activas, com filhos (com VIDA!), a rapaziada do costume quer bloquear o projecto para o edifício onde funcionou a sede da PIDE. Argumento: sem um edifício, uma espécie de templo onde pôr velinhas, a memória das vítimas do fascismo perder-se-ia!

E, para espanto meu, é o director do Museu República e Resistência, putativo guardião dessa memória, que lidera o movimento. O dr Mário Mascarenhas reconhece, desse modo, a sua incapacidade para reunir no seu museu o acervo disperso e cópias do que de mais significativo há na Torre do Tombo sobre o tema e desenvolver actividades que perpetuem essa memória.

O Museu República e Resistência já tem duas dependências (av das Forças Armadas e estrada de Benfica) - será que seu director pretende outras mais? Com o edifício da António Maria Cardoso, mais (já agora) o Aljube e o Forte de Peniche talvez chegue a Director Geral. E com os compagnons de route de volta ao poder, tudo é possível...

Vale a pena o esforço, carago!

Friday, March 11, 2005

Vão andar todas de burca, é o que é...

Ontem à noite fiquei impressionado com o puto que a televisão mostrou, sobrevivente do atentado de Atocha. Está praticamente hemiplégico, meio surdo, muito debilitado a ponto de se sentir com 80 anos, ele que vai fazer 20 dentro de dias.

Mas o que me impressionou mais foi o discurso dele, que nada tem a perdoar aos tipos que colocaram as bombas, a quem se refere como uns desgraçados imersos numa cultura malévola e a troco de algum dinheiro, nem aos que planearam friamente o golpe para o lugar e a hora em que mais pessoas seriam mortas ou feridas. A estes últimos nem se refere!

Refere-se, isso sim, a Aznar e ao seu ministro da Defesa, que não souberam ouvir o clamor do povo contra a guerra, a quem nunca perdoará. Esses, para ele, são os verdadeiros culpados!

O puto é novinho, está compreensivelmente traumatizado mas, mesmo assim, faz eco de forma clara a seguinte mensagem:

"Governos de todo o Mundo, ouçam com atenção os terroristas e não façam nada que lhes desagrade para não nos sujeitarem à sua terrível vingança!"

Lindo! Ainda por cima, há gente que não apanhou com a explosão e pensa da mesma maneira.

Lá vão as mulheres ter que vestir burcas e ficar em casa quando não há um homem da família para as levar à rua...

Thursday, March 10, 2005

Sentença histórica

Finalmente!!!

Matar ao volante deu 17 (dezassete) anos de prisão ao condutor.

O bandido em fuga que furou uma barreira policial na ponte do Guadiana, matando um sub chefe da polícia, foi condenado a 17 anos de prisão por homicídio qualificado.

Ainda por cima, todo o processo demorou cerca de um ano, em vez de se arrastar por vários.

A família do polícia assassinado, mulher e dois menores com idades à volta dos 12 anos, vai receber uma indemnização decente: cerca de € 500.000,00 (isso mesmo, quinhentos mil euros).

Vamos esperar novos casos para perceber se estamos no bom caminho ou se se tratou de um caso isolado.

Wednesday, March 09, 2005

O PCP e o Parque Mayer

Depois de décadas de decadência, o Parque Mayer parece finalmente encaminhado para sair do abandono a que o fim do teatro de revista (calma, isso dava pano para mangas) o votou.

Foi preciso aparecer um presidente de câmara não político para se negociar entre PS e PSD uma solução viável, que mantém no local alguma "kultura" (subsidiada pelas receitas do casino, em vez de ser pelo OGE...) e o abre ao imobiliário (que, afinal, é donde vêm as massas para muita coisa).

Claro que o PCP, travestido de arauto e guardião da virtude (como vai longe o tempo da Sóvia...), sempre pronto a exigir "equipamentos sociais" onde actuarão grupos de artistas cuja principal arte é (enfim, algumas vezes) mais a de sacar subsídios do que a de atrair espectadores pagantes. Para isso, parece que só temos o La Féria...

O PCP, dizia eu, vem agora acusar toda a gente de fazer negociatas, de sub avaliar de um lado e sobre avaliar do outro de modo a beneficiar "os privados" e prejudicar a "res publica".

Ao mesmo tempo, os inteligentes do costume vêm sugerir que tanto o parque Mayer como a feira popular sejam transformados em espaços verdes.

Fantástico, Melga! Espaços verdes?!

Espaços verdes: um, ligado ao jardim Botânico, o outro em prolongamento do Campo Grande. Um e outro são pequeninos, estão cheios de visitantes (?!) de modo que há que expandi-los.

Receitas para a CML, nem vale a pena falar nisso; afinal, ainda há o Totta (vão ao Totta!). Despesas extra? Qual é o problema? Na cultura (na educação e na saúde, não é?) não se olha a despesas.

Pobres tontos!

Desgraçadamente, dessa súcia parece que só o PCP está em vias de extinção...

Tuesday, March 08, 2005

Alguma justiça fiscal

O Público de hoje trazia um artigo do Jorge Weamans, jornalista, que, em tom de carta dirigida a Sócrates, lhe dizia, entre outras coisas, que era preciso gastar menos e melhor, pois pelo lado da receita nada havia a esperar. Isto, depois de gastar quase uma coluna a explicar por que o tratava por tu...

Não era claro no artigo se ele se referia apenas a não aumentar os impostos ou se tinha outra ideia mais elaborada em mente. Mas a verdade é que, dito daquela maneira, é mais um opinion maker a propalar o disparate de que não se consegue cobrar mais impostos, nem se consegue dinimuir a economia paralela.

Basta ver a que nível estamos nas estimativas do volume da economia informal (à volta de 25%) e a quantidade imensa de receita fiscal contabilizada e não cobrada para se perceber que é fundamental e urgente, para além de racionalizar a despesa, cobrar melhor as receitas a que o erário tem direito.

Cobrando melhor (o ideal seria cobrar toda a receita fiscal contabilizada, e contabilizar toda a receita fiscal potencial - economia informal, fraude fiscal, etc) seria possível ter orçamentos com superavit, amortizar a dívida pública, investir em infraestruturas e, a médio prazo, baixar significativamente os impostos.

É claro que aquela meta ideal é inatingível, a cobrança de impostos nem sequer nos States é total; a eliminação da economia paralela nem nos States (nem nos países nórdicos) é suficientemente bem sucedida a ponto de a trazer para níveis muito inferiores a 10%.

Mas (que diabo!) dizer logo à partida que não há nada a fazer do lado da receita é dar um péssimo bitaite ao novel primeiro Ministro que, coitado, não tem necessidade nenhuma de ouvir disparates nem sugestões patetas.

E o Público dá a este aprendiz de economista (?!) quase uma página inteira!!!

Saturday, March 05, 2005

O edifício Coutinho não vai abaixo!

Finalmente parece certo: os moradores conseguiram ver reconhecida a iniquidade da intenção da C.M. de Viana do Castelo em usar o Polis para financiar a demolição do edifício Coutinho e a consequente indemnização e realojamento dos seus moradores. A C.M. de V.C. recorreu ainda ao governo pedindo o reconhecimento da utilidade pública da operação. Levou nega!

O caso é simples e recordo-o: um prédio de 13 ou 14 andares foi construído na baixa de Viana do Castelo há uns 30 anos (por volta do 25 de Abril); há alguns anos, uns inteligentes resolveram que o prédio destoava naquele local (e destoa mesmo - é muito mais alto que os que o circundam) e vai daí, entenderam que havia que corrigir o "erro urbanístico" à força do camartelo municipal.

Os 300 (TREZENTOS) moradores não se ficaram, até porque não se trata de habitação degradada, antes pelo contrário, a localização é óptima e a construção foi feita cumprindo tudo o que a lei exigia no tempo em que ocorreu.

Além disso, achavam uma perfeita loucura e um precedente perigoso que fizesse regra a atitude de que "se eu não gosto da tua casa, faço um referendo municipal para a deitar abaixo!"

É verdade: chegou a ser defendido o recurso a um referendo local em que se perguntaria a toda a população da cidade se queria (SIM ou NÃO) que a casa alheia fosse abaixo. Uma "casa" legal, não um barraco clandestino.

Bruxelas não foi sensível aos argumentos da C.M. de V.C. que alegava "razões estéticas" e considerou inoportuna a demolição de um edifício em bom estado e construído de acordo com os preceitos legais então vigentes. Ora toma!

Aleluia, o bom senso prevaleceu.

O novo Governo

O engº Sócrates surpreendeu-me muito favoravelmente: formou governo fora da praça pública (pelo menos os ministros) e apresentou um elenco a que atribuo, para já, dois aspectos muito positivos.

Por um lado, é um governo pequeno (16 ministros); por outro, não figuram nele muitas das pessoas que eram dadas quase como certas e cuja participação no governo não auguraria nada de bom. Refiro-me às abençoadas ausências de João Cravinho, Maria de Belém, Jorge Coelho, Ferro Rodrigues, Tó Zé Seguro, Alberto Martins, Leonor Coutinho, Arons de Carvalho... Estes dois últimos mais a Ana Benavente são bem capazes de ainda entrarem como secretários de Estado, o que não era nada bom.

Pese embora alguns graúdos terem ficado na reserva (Vitorino e Jaime Gama, por exemplo) Sócrates foi buscar alguns independentes de prestígio na suas áreas de actividade e até com alto estatuto na sociedade (o caso de Freitas do Amaral). Nunes Correia, Jaime Silva e Campos e Cunha estão neste grupo restrito. O regresso do antigo ministro Correia de Campos parece garantir que a gestão dos hospitais subcontratada a empresas do ramo não será completamente deitada fora.

Resta saber se o engº Sócrates consegue liderar o grupo (afinal é um peso pluma...), no que contará com a ajuda inestimável de António Costa, e evitar que cada ministério, nomeadamente os Negócios Estrangeiros, Saúde, Economia e Finaças sigam as políticas que os seus titulares entenderem sem darem grande cavaco ao primo inter pares...

Um sinal negativo (já?!): o futuro ministro das finanças parece não ter percebido ainda o efeito que uma "boca" do ministro (que agora é ele, ok?) ou do governador do Banco de Portugal pode ter sobre os agentes económicos (ou, simplesmente não está habituado a que lhe metam vários microfones à frente) e deixou perceber que, para fazer face às despesas inerentes às promessas eleitorais, não vai chegar o corte nas despesas: vai ter que subir os impostos. Parece admitir à partida o insucesso na guerra pela boa cobrança dos impostos, o que é muito, muito mau!

E para quem prometeu pôr a tónica no desenvolvimento da economia, este não é propriamente um sinal positivo.

Estamos a observar-vos, rapaziada!

Friday, March 04, 2005

A intolerância é mútua (as mais das vezes...)

O bacoco anúncio do padre Serras Pereira, que lhe proporcionou um pouco mais que 15 minutos de fama (veja, se quiser, a transcrição no post anterior), desencadeou uma onda de reacções na comunidade cristã e laica, quer nas tribunas dos colunistas encartados quer nas secções de cartas aos directores, tribunas dos leitores e quejandos.

Presumo que o famigerado Fórum TSF e o equivalente da Antena 1 tenham batido os records de intervenções indignadas, palavrosas e, como de costume, patetas e/ou enfatuadas. Só presumo porque, quando a busca do rádio do carro pára num desses fóruns, fujo deles como o diabo da cruz (fugirá?!) e refugio-me na R. C. Português que, a horas iguais, dá muita música e pouca treta.

E, para treta (também tenho direito), já chega, e entro no que queria dizer sobre o assunto:

O sr Padre tem todo o direito de dizer as maiores bacoradas e quem o contesta tem igual direito de o fazer, com maior ou menor veemência e indignação. Já não estamos no tempo da Inquisição nem no verão quente de 75, de modo que cada um pode (e deve) dizer o que pensa e defendê-lo sem receio de ir dentro ou de levar com uma bomba no carrito...

Mas era giro que "a gente" percebesse que o sr Padre fornece um produto aos fiéis (ou, se quiserem, vende um produto aos clientes) e é a esses que ele se dirige. E as condições em que um produto é fornecido costumam ser definidas por quem o fornece, de modo a conseguir uma maior saída de forma duradoura. E parece um bocado "esquisito" que quem não está interessado no produto se preocupe tanto com as condições que o fornecdor estipula para o fornecer.

Os clientes do padre, os "fiéis", supostamente pertencem a um grupo de pessoas unidas por uma série de regras e "mandamentos", grupo tornado coeso, coerente e longevo (vai para os 2000 anos de existência) por uma organização fortemente hierarquizada e centralizada. E, de tempos a tempos, governada com mão forte.

A generalidade das reacções ao que disse o sr Padre seguiu a vertente da contestação das suas ideias sobre aborto, contracepção, concepção assistida, investigação com células estaminais, redução fetal, conservação criogénica de embriões, eutanásia, clonagem. A ideia do padre parece resumir-se a "é assassinato de inocentes, logo é pecado", mas qualquer desses pontos daria uma boa discussão e os contestatários aproveitaram a oportunidade para condenarem o espírito medieval do padre e exercitarem a sua argumentação no sentido oposto ao do sacrista.

Muito poucas seguiram a vertente (que também se impõe) de discutir a legitimidade da proibição de dar a comunhão a quem viole cada um dos pontos que o padre refere. Sendo o anúncio dirigido aos fiéis, mais, aos fiéis praticantes, ainda mais, aos que praticam sob o ministério de Serras Pereira, era de esperar uma acesa discussão em torno de cada um daqueles pontos específicos e ainda alguma discussão sobre a legitimidade do padre ultrapassar a hierarquia e "botar regras" mais restritivas que aquelas que o Patriarcado e a Diocese consagram.

De qualquer modo, tranquilizem-se, oh cidadãos! Só são atingidos os fiéis e, mesmo estes podem sempre ir comungar à igreja ao lado ou à missa de outro padre menos fundamentalista...

A todos os interessados....

A todos os interessados que não conseguiram encontrar a pérola que foi atirada aos pecadores pelo Senhor Padre Serras Pereira (será de família da jornalista e do advogado?), aqui deixo o texto integral do anúncio a verberar os pecadores e a convidá-los ao arrependimento.

Vamos ter mais disto nesta lenta caminhada para o próximo referendo. Lembram-se duma tipa (oops! de uma senhora) que aparecia nas manifestações PRÓ VIDA, vestida de branco, com uns acessórios de que não me lembro bem (uma cruz, um rosário, uma chapeleta, etc).

Pois é, se não baicou ainda, vamos tê-la a animar o folclore próvidal.

Aqui vai:

"PARTICIPAÇÃO AOS INTERESSADOS

Na impossibilidade de contactar pessoalmente as pessoas envolvidas, o padre Nuno Serras Pereira, sacerdote católico, vem por este meio dar público conhecimento que, em virtude do que estabelece o cânone 915 do Código de Direito Canónico, está impedido de dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes quer através de diversas pílulas, do DIU, da pílula do dia seguinte ou outras substâncias que para além do possível efeito contraceptivo possam ter também um efeito letal no recém concebido, quer por meio das técnicas de fecundação extra-corpórea, da selecção embrionária, da crio perseveração, da experimentação em embriões, da investigação em células estaminais embrionárias, da redução fetal, da clonagem..., quer através da legalização do aborto (votar ou participar em campanhas a seu favor), o que inclui a aceitação ou concordância com a actua "lei" em vigor (6/84 e seus acrescentos), quer ainda, pela eutanásia.

O respeito pelo culto e pela reverência devida a Deus e a Seu Filho Sacramentado, o cuidado pelo bem espiritual dos próprios, a necessidade de evitar escândalo, e a preocupação pelos sinais educativos e pedagógicos para com o povo cristão e para com todos são razões ponderosas que seguramente, ajudarão a compreender a razão de ser deste grave dever que o cânone 915, vinculando a consciência, exige dos ministros da Eucaristia.

Da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo convida todos ao arrependimento e à retractação pública, para que refeita a comunhão com Deus e com a Sua Igreja possam receber digna e frutuosamente o Corpo do Senhor.

Pe. Nuno Serras Pereira"

Comentater, frater!